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Linha indonésia, que corta como “lâmina” e ganhou o lugar do cerol, é vendida livremente pela internet

Por Dentro De Tudo:

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‘Ótimo produto para diversão própria e revenda. Emitimos nota fiscal’. A frase está em um dos vários anúncios de sites que vendem a chamada linha indonésia, mistura de cola cianoacrilato, conhecida como super bonder, carbeto de silício ou óxido de alumínio usada por pessoas que soltam pipas. Trata-se de uma ‘evolução da linha chilena’ (mistura de madeira com quartzo moído) que ganhou, há alguns anos, o lugar do cerol (vidro moído e cola).   

Por ter potencial de corte até dez vezes maior que as demais, a linha indonésia tornou-se a principal preocupação de motociclistas, médicos e socorristas. O sinal de alerta foi reforçado no último final de semana, após a Guarda Municipal de Belo Horizonte apreender latas da mistura de cola com super bonder e óxido de alumínio na região do Barreiro.

Mas quais os riscos para as vítimas? A reportagem da Itatiaia conversou com o cirurgião do trauma do Hospital João XXIII, Rodrigo Muzzi, e com o aspirante Moreira, do Corpo de Bombeiros de Minas. “A linha Indonésia, por exemplo, possui um elevado risco a todos que tenham contato com ela. Por se tratar de uma linha feita com nylon, que é um material que por si só já tem alta resistência mecânica, essa linha tem um poder de corte muito alto, não obstante dos demais tipos comentados, como o cerol e a linha chilena. A principal diferença entre esses tipos é em relação ao material de confecção”, explica o bombeiro. 

O cirurgião ressalta que as vítimas chegam ao pronto-socorro em estado grave. “O mais comum de chegar no João XXIII, hospital grande e de referência, são (pacientes) trazidos pelo Samu com lesões mais graves. São motociclistas que passam em alta velocidade e tem uma linha de cerol que atinge alguns membros, como pescoço e até mesmo rosto ou cabeça, se não estiver usando capacete. Essas lesões costumam ser muito graves”, diz o médico.   

O médico diz que linhas como a indonésia cortam como ‘faca’ e ‘lâmina’ e que os motociclistas são as principais vítimas. “Na hora que está empinando a pipa, a linha fica tensa e o motociclista passa, nem precisa estar em alta velocidade, a linha corta igual uma faca, igual uma lâmina. E, normalmente, pega no pescoço. Então, essas lesões são profundas, lesões de estruturas nobres no pescoço. Muitas vezes tem dificuldade de intubação na cena e alguns pacientes podem morrer na própria cena, não chega nem ao hospital. E, eventualmente, chega no hospital gravíssimo e precisa ser levado de emergência para o bloco cirúrgico”, ressaltou.  

Sequelas

 O cirurgião destaca ainda que as sequelas são na parte estética, na voz e até na parte neurológica. “O que acontece com esse tipo linha, a chilena e a indonésia, o poder cortante é muito maior que o cerol, que já lesa muito”, diz o médico, que não descarta nem mesmo o risco de decapitação. “Nunca vi um paciente decapitado por linha chilena, cerol ou indonésia, mas não é impossível. A gente tem a parte da coluna óssea que muito difícil de passar, mas não é impossível. Já vi um paciente quase decapitado.”

Atendimentos 

Entre janeiro e abril deste ano, sete pessoas foram atendidas no João XXIII vítimas de linhas cortantes. No entanto, o número de acidentes deve ser bem maior, uma vez que a unidade recebe apenas casos graves. No mesmo período de 2021, a unidade registou cinco casos.   

Lei  

Uma lei estadual de 2019 veda a comercialização e o uso de linha cortante. A multa para quem for flagrado vendendo linhas cortantes varia de R$ 3.590 a R$ 179 mil (para casos de reincidência). Se a linha cortante apreendida estiver em poder de menores de idade, pais ou responsáveis legais serão notificados da autuação e o caso será comunicado ao Conselho Tutelar.  

Fonte: Itatiaia.

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