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Lund e os 180 anos do Homem de Lagoa Santa

Por Dentro De Tudo:

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Em 1844, o dinamarquês Peter William Lund anunciou ter descoberto, na gruta do Sumidouro e no entorno da lagoa do Sumidouro, fósseis que atestavam a existência do Homem de Lagoa Santa, entre outras descobertas que o levaram a ser citado seis vezes por Charles Darwin no seu livro “A Origem das Espécies e a Seleção Natural”, de 1859.  

Darwin, com as descobertas de Lund, revolucionou a teoria sobre a evolução humana e animal, ao sustentar que as mutações dos seres vivos decorrem de um processo de seleção natural.  

Dinamarquês, naturalista e médico, Lund escavou e pesquisou em mais de duas centenas de cavernas calcárias da região de Lagoa Santa, onde viveu de 1835 a 1880. 

A revelação do Homem de Lagoa Santa completa 180 anos e é mais um fato histórico e cultural que ilustra e distingue a história de Minas, entre muitos outros, nos três séculos da criação da Capitania das Minas de Ouro, em 1720. E que ainda aguarda maior divulgação como fato mundialmente conhecido, mas pouco celebrado.  

As descobertas de Lund, ao comparar as espécies encontradas em Lagoa Santa, lembradas por Darwin, permitiram sustentar que evoluem porque descendem, com modificações, de um ancestral comum em processo de seleção natural, imposto pelas condições de sobrevivência e adaptação no seu meio natural. Indivíduos mais adaptados têm mais condições de sobreviver e reproduzir. 

Lund, com suas pesquisas e estudos comparativos, revelou a imensa importância da região de Lagoa Santa na decifração da presença dos seres humanos no continente americano, determinando também a evolução de espécies por suas semelhanças e diferenças e contestando o pensamento dominante do naturalista e zoólogo francês George Cuvier, chamado de “fixista”, que sustentava a imutabilidade das espécies.  

Em 1975, a arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire encontrou, na Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo, um crânio e um fêmur femininos, datados de 11 mil a 12 mil anos, o mais antigo fóssil das Américas, a que se deu o nome de “Luzia”, considerado integrante da primeira população do continente americano. O original quase foi totalmente destruído no incêndio do Museu Nacional, no Rio, e revela traços de negros africanos e aborígenes e é considerado a maior relíquia arqueológica brasileira. 

Entre 2000 e 2009, o arqueólogo Walter Neves, da USP, realizou várias viagens de pesquisa na região de Lagoa Santa e propôs uma revisão interpretativa, com abordagem contemporânea e comparativa, dos achados de Lund, Ludwig Riedel e Peter Clausen. Além disso, reviu teorias sobre a antiguidade e locomoção no continente americano a partir de Lund e outros, sustentando que povos do noroeste da Ásia também foram para a região. 

A questão ainda suscita debates, mas comprova que a região de Lagoa Santa é de alto interesse internacional para estudos paleontológicos. Em 2025, ocorrerá em Minas congresso internacional com mais de mil arqueólogos: visitarão Lagoa Santa e as grutas do Peruaçu, que hoje despertam grande interesse. 

No cemitério de Lund, em Lagoa Santa, seu busto assinala o título de “Pai da paleontologia brasileira”. Ao seu lado, o busto de Eugenius Warming, botânico dinamarquês, que trabalhou com Lund e realizou extenso levantamento das espécies vegetais do Cerrado, especialmente da serra do Cipó, considerado iniciador da fitobotânica brasileira. Mas ainda falta maior divulgação dessas excepcionais riquezas de Minas Gerais. 

(*) Mauro Werkema é jornalista  – Fonte: O Tempo.

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