Quatro a cada dez ônibus metropolitanos vistoriados foram impedidos de rodar no ano passado. Na lista das principais irregularidades estão freios com defeito e pneus desgastados. A falta de manutenção potencializa o risco de acidentes graves, como o que ocorreu recentemente na capital, que deixou 29 feridos.
A fiscalização também encontrou bancos danificados e até infiltrações no interior dos coletivos, gerando ainda mais transtornos aos usuários, que já convivem diariamente com veículos lotados em meio à pandemia da Covid-19.
Segundo o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem (DER-MG), foram realizadas 1.071 inspeções em ônibus que ligam as cidades da região metropolitana à capital. Ao todo, 440 foram reprovados e tiveram a autorização de tráfego suspensa. A frota, no entanto, é de mais de 2,5 mil carros.
Consultor em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade garante que o total de veículos com defeito é grande e mostra a necessidade das vistorias, que deveriam ser feitas anualmente, o que não é definido pelo regulamento do sistema de transporte metropolitano (RSTC).
Além disso, o engenheiro afirma que outras verificações devem ser executadas aleatoriamente para garantir manutenção em dia. “Todo cuidado é pouco. Quando se trata de vidas humanas, temos que ter sempre preocupações maiores”.
Há duas semanas, um coletivo da linha 524R teve um dos eixos desprendidos, tombou e deixou passageiros com ferimentos leves. No mesmo dia, a roda de um ônibus da linha 5460, da mesma empresa, soltou com o veículo em movimento, ainda dentro do terminal Vilarinho, em Venda Nova. Ninguém se machucou.
“Corre-se o risco de em um ônibus cheio, envolvido em um acidente desse tipo, provocar algo mais grave. Não podemos trabalhar com a sorte, mas com a técnica. Se tomassem todos os cuidados, esses índices poderiam ser menores”, acrescenta Silvestre de Andrade.
Até dezembro passado, a legislação estadual não previa multa para os veículos reprovados em vistoria, apenas a retirada de circulação até que o problema fosse sanado. Desde janeiro, os veículos com algum tipo de inconformidade podem ser autuados. O DER não informou o valor da multa.
Reclamações
As reclamações dos usuários sobre a situação das 615 linhas do transporte metropolitano não são poucas. Em 2021, mais de 11 mil. As principais são referentes à superlotação, quadro de horários insuficiente e estado de conservação dos veículos.
Renata Coelho Barbosa, de 47 anos, é gerente de pet shop e pega diariamente o 2290, que liga o bairro Nacional, em Contagem, a BH. A linha é uma das cinco que mais gerou protestos no ano passado. É a única opção dela para chegar no serviço, em Nova Lima.
De acordo com a passageira, os sinais de má conservação, como janelas e bancos quebrados, são antigos. “Já fizemos várias denúncias, mas não avançou”.
Respostas
Conforme o DER, as ações de fiscalização são realizadas de forma rotineira e as reclamações encaminhadas pelos cidadãos e passageiros orientam e direcionam o trabalho dos fiscais. O órgão recebe reclamações por meio dos canais disponíveis no site www.der.mg.gov.br, MG app e telefone 162, opção 9, da Ouvidoria Geral do Estado.
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram) informou que todos os carros são vistoriados e quando alguma falha é detectada, a concessionária responsável realiza os reparos. “Os ônibus só retornam à operação quando estão aptos a rodar de maneira segura”.