Famílias de 309 crianças desaparecidas em Minas Gerais entre 2020 e 2022 ainda aguardam desesperadamente por respostas sobre o paradeiro de seus filhos. Essa preocupante estatística foi revelada em um relatório divulgado pela Polícia Civil no Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, em 25 de maio.
De acordo com o relatório, ao longo de três anos, foram registrados aproximadamente 507 casos de desaparecimentos de crianças de 0 a 12 anos, mas apenas 198 delas foram encontradas, o que corresponde a cerca de 39%. As outras 309 crianças desaparecidas continuam sendo procuradas pelas autoridades.
Uma história de uma década sem respostas é a de Kênia Natividade Brum, que desapareceu em 18 de julho de 2007, aos dez anos de idade, no Centro de Belo Horizonte. Apesar das investigações, a Polícia Civil de Minas Gerais ainda não obteve informações sobre seu paradeiro.
Segundo relatos de testemunhas, no dia do desaparecimento, Kênia estava acompanhada de uma amiga da família enquanto aguardava do lado de fora de uma loja no centro da cidade. Quando a amiga retornou ao local onde havia deixado Kênia, a garota havia desaparecido.
Há esperança de reencontro para algumas famílias, como é o caso de Cecília São José Faria, que desapareceu em fevereiro de 1976, aos 1 ano e 9 meses, em um acampamento na cidade de Guarapari, no Espírito Santo. Embora a mãe de Cecília tenha falecido em 2021 e seu pai sofra de Alzheimer, sua irmã, Débora São José de Faria Pereira, de 52 anos, mantém viva a esperança de encontrá-la um dia.
Débora compartilha suas palavras de encorajamento com as mais de 300 famílias que também enfrentam a angústia do desaparecimento de seus entes queridos. Ela destaca que vivemos no século XXI, com tecnologias que podem ajudar na busca, e encoraja essas famílias a não desistirem e continuarem lutando, pois a esperança nunca deve ser perdida.
O desaparecimento de crianças é um fenômeno complexo, conforme explicou a delegada Bianca Landau, da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD), durante uma coletiva de imprensa. Ela ressaltou que o desaparecimento de crianças é o grupo menos frequente, representando apenas 2,48% do total. No entanto, quando uma criança, adolescente ou idoso desaparece, a atenção deve ser redobrada, pois eles estão em fase de desenvolvimento ou são vulneráveis. A delegada pede que as pessoas registrem os desaparecimentos junto à polícia para que as investigações possam ser realizadas.
Para se ter ideia, em 71,26% dos acionamentos da Polícia Civil por crianças que somem trata-se da primeira ausência (a primeira vez que a criança sai de casa sozinha). O conflito familiar só aparece como segundo maior motivo, com 21,85%. Já entre os adolescentes (de 13 aos 18 anos), o conflito familiar corresponde a 34,14% dos casos e a primeira ausência a 55%.
“Ao longo das investigações, temos visto crianças que são aliciadas em bate-papos na Internet. Por isso, pedimos que os pais acompanhem as páginas que os filhos acessam. Isso é uma coisa que tem ocorrido, crianças que saem de casa para encontrar com alguém que combinou na internet”, alerta Bianca.
Ainda segundo a policial, no caso de adolescentes os principais motivos são, entre as meninas, os conflitos familiares. “Querem namorar e os pais não autorizam, por exemplo. Já entre os meninos, muitas vezes é em função do uso de drogas e da criminalidade”, acrescenta.
Saiba como ajudar
Se você tem informações sobre pessoas desaparecidas ou precisa registrar o desaparecimento de alguém, procure a polícia ou ligue para o número 0800 28 28 197.
Fonte: O Tempo.