Três décadas após o massacre do Carandiru, que deixou 111 presos mortos em São Paulo e se tornou símbolo da violência policial no Brasil, o país volta a registrar uma tragédia de proporções inéditas. A megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, superou o episódio de 1992 em número de vítimas e já é considerada a mais letal da história nacional.
Segundo dados do governo do Rio divulgados na terça-feira (28), 64 pessoas morreram durante a ação — 60 classificadas como suspeitas e quatro policiais civis e militares. Durante a madrugada desta quarta-feira (29), moradores da Penha levaram à Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, ao menos outros 64 corpos que, segundo a Polícia Militar, não estão incluídos no balanço oficial. Com isso, o total de mortos chega a 128.
A operação, que envolveu cerca de 2,5 mil agentes e foi planejada por dois meses, teve como objetivo conter o avanço do Comando Vermelho, principal facção criminosa do estado. O governo classificou a ação como uma ofensiva contra o “narcoterrorismo”, expressão usada para justificar a intensidade do confronto e o uso de armamento pesado.
Moradores relataram cenas de guerra, com tiroteios intensos e corpos espalhados em áreas de mata, especialmente na Serra da Misericórdia. Peritos trabalham para identificar as vítimas e investigar se as mortes registradas após a operação estão relacionadas ao confronto.
Durante o combate, criminosos usaram drones para lançar granadas contra equipes das forças especiais, em uma demonstração inédita de poder bélico no cenário urbano brasileiro. O governo estadual reconheceu a gravidade da situação e afirmou que o Rio enfrenta um conflito que “ultrapassa o campo da segurança pública tradicional”.
A ação resultou ainda em 81 prisões e na apreensão de 42 fuzis. Mesmo antes da conclusão das investigações, o governo já anunciou o planejamento de novas ofensivas contra o crime organizado em outras regiões da cidade.
O episódio reacendeu o debate sobre o uso da força letal pelas polícias e a ausência de apoio federal em ações de grande escala. Entidades de direitos humanos criticaram a operação, classificando-a como um novo marco da escalada de violência no estado.
A tragédia que se desenrola no Rio de Janeiro remete, em proporção e brutalidade, ao Carandiru de 1992 — agora não dentro dos muros de um presídio, mas nas ruas de uma metrópole em pleno século XXI.
Fonte: O Globo
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo




















