Minas Gerais registrou o maior número de mortes por COVID-19 em seis meses, segundo boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) nesta sexta-feira (11/2). Apesar do secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, ter confirmado que o pico da infecção pela COVID-19 no estado já passou, a infectologista da rede de laboratórios do Grupo Pardini, Melissa Valentini, afirma que o número de mortes deve continuar alto pelos próximos dias.
“A ômicron infecta muitas pessoas ao mesmo tempo, mas, aparentemente, o pico é atingido em quatro semanas e começa a cair. Em Minas, essa queda já começou. Pelos dados do Grupo Pardini, o percentual de testes positivos no estado já vem caindo desde a semana passada. Mas ainda estamos com um percentual de testes positivos muito alto, de quase 50% dos testes. O que é muito maior do que em qualquer outro momento da pandemia”, explica Melissa.
Segundo ela, isso é resultado da ômicron ser uma variante mais transmissível. “Ela é mais transmissível, menos grave, mas temos muitas pessoas ao mesmo tempo infectadas. Possivelmente, vamos ter mais internações e mais mortes. Em nenhum momento anterior tivemos tantas pessoas infectadas ao mesmo tempo.”
“Embora o pico já tenha passado, ainda temos muita gente infectada. Isso porque não testamos todo mundo. Sabemos que pacientes do SUS não fazem teste e aqueles que fazem teste em farmácia, nem todos são reportados”, completa.
A infectologista explica que, no caso da COVID-19, há o pico da doença, com aumento das internações cerca de 15 a 20 dias após esse pico. Já a mortalidade acontece posteriormente, com 30 dias.
“A pessoa pegou COVID, ficou mal – o que acontece depois do sétimo dia – foi internada, foi para a terapia intensiva e o óbito é mais tardio. As mortes acontecem de 3 a 4 semanas após o pico do contágio.”
Assim, segundo Melissa, nos próximos dias e semanas, é possível que o número de mortes por COVID possa aumentar no estado.
Subvariente BA.2
Outro motivo de preocupação dos especialistas é a
subvariante da ômicron, a BA.2. No Brasil, já foram registrados casos em São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A infectologista acredita que, em pouco tempo, ela deve se tornar predominante entre os casos de COVID-19.
“Muito provavelmente a maioria dos testes ainda é da variante BA.1 (ômicron original). Possivelmente, a BA.2 vai chegar porque já chegou em outros lugares e se tornou a variante mais importante em pouquíssimo tempo.”
Um estudo feito na Dinamarca mostrou que a BA.2 é 33% mais transmissível que a ômicron original.
“Os dados da Dinamarca mostram essa suplementação e os da África do Sul também. Temos que aguardar. Mas, ela já foi detectada no Brasil e possivelmente o número de casos dela cresça também.”
Apesar de mais transmissível, a subvariante, assim como a ômicron, é menos letal. “O que os pesquisadores viram neste artigo publicado na Dinamarca – que é um artigo pequeno – é que a transmissibilidade das pessoas vacinadas é menor do que dos não vacinados.”
Melissa reforça, porém, que esse é um estudo pequeno. “Ainda precisamos de análise proporcional para avaliar isso.”
Carnaval e dose de reforço
A infectologista acredita que o número de casos de COVID possa subir após o carnaval. “Mas, acho que vai ser menor que o Revéillon, por exemplo, quando tivemos uma contaminação maior da ômicron. Ainda estamos em um período epidêmico. Muito possivelmente não vamos ter um pico tão mais alto porque muitas pessoas pegaram (a doença).”
De acordo com Melissa, normalmente, não é comum a pessoa pegar COVID em um mês e novamente no mês seguinte. “Embora, como a BA.2 é mais infecciosa, ela possa suplantar os anticorpos produzidos pela BA.1. Não sabemos ainda, mas normalmente há um período de trégua depois de uma infecção. Com as variantes originais, eram três meses sem risco de pegar COVID após a infecção.”
“Como estamos diante de uma subvariante que é mais infecciosa e tem cerca de 40 mutações a mais que a BA.1, pode ser que os anticorpos produzidos pela infecção da BA.1 não sejam suficientes para impedir a infecção pela BA.2 em um curto período de tempo. Mas, isso ainda é tratado como hipótese e precisa de confirmação. Na Dinamarca, quando surgiu a BA.2, houve como se fosse um platô, com um pequeno pico, mas depois os casos caíram de novo”, completa.
A infectologista lembra que as pessoas precisam se vacinar com a dose de reforço. “Vimos que a população ficou muito insegura com a vacinação, por ter se vacinado e mesmo assim ter se contaminado com a ômicron. A proteção é muito maior próxima a terceira dose, mas a proteção contra a doença grave persistiu, tanto que vemos que a prevenção de doença grave nos vacinados, principalmente aqueles com terceira dose é de mais de 90%.”
*Estagiária sob supervisão do subedditor Eduardo Oliveira