Minas Gerais registrou, desde o início do ano, mais incêndios florestais que o Pará, estado com mais de 1,2 milhão de km² em seu território e um dos oito que integram a Amazônia Legal – área verde que representa um terço da reserva mundial de florestas.
No país, entre 1º janeiro e 20 julho deste ano, foram mais de 6 mil focos de queimadas nas áreas de Cerrado (4.252) e na Amazônia ( 2.023 ), superando as ocorrências do mesmo período de 2021, segundo o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Minas está entre os cinco estados com o maior número de focos de queimadas detectadas pelos satélites do Instituto e é o único da região Sudeste com mais de 2 mil casos registrados desde o início do ano.
E, no triste ranking do fogo em áreas verdes, Bahia, Pará, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo também aparecem entre os dez estados com maior quantidade de ocorrências de focos de incêndio, registrados de janeiro a julho.
Pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de Brasília (UnB) e do Inpe usaram um conjunto de dados de áreas queimadas entre 2001 e 2019, para simular seu impacto futuro em cenários alternativos de política e clima.
O estudo Determinants of impact of fire in the Brazilian biomes, publicado pela revista Frontiers in Forests and Global Change, investigou as causas dos incêndios, os impactos e as tendências, considerando fatores climáticos, uso da terra e desmatamento, nos biomas brasileiros: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica e Pampas.
Ubirajara Oliveira, pesquisador do CSR, explica que, no mapa do impacto do fogo no Brasil, o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia são mais atingidos por incêndios recorrentes, em vastas áreas e com chamas intensas, que alcançam altas temperaturas.
De acordo com o pesquisador, nas florestas do Pará, por exemplo, as queimadas estão associadas ao desmatamento ao longo da fronteira agrícola. “Depois de cortar as árvores na floresta, o fogo é usado para ‘limpar’ o terreno para rebrota de pastos, plantio de lavouras ou em conflitos de interesses entre as propriedades desmatadas e áreas de conservação”, diz.
Entrentanto, continua o cientista, as unidades de preservação (florestas) funcionam como barreiras para conter os incêndios de grande impacto. Já no Cerrado, como em Minas, afirma o biológo, os incêndios mais comuns são causados pelo homem e no período de seca, como agora.
Nesse bioma, os focos de maior impacto são mais frequentes em unidades de conservação. E estão associados à proximidade de regiões com expansão agropecuária, geralmente, em áreas desmatadas que são usadas como pasto ou lavoura.
“Os incêndios mais comuns são criminosos ou por ação de proprietários rurais, que ateiam fogo ao pasto. As chamas saem do controle, atingindo, inclusive, a sede da fazenda, trazendo um dano material muito grande”, explica Ubirajara.
O cientista alerta que as mudanças climáticas, com a emissão de gases, que deixam o tempo mais quente e mais seco, agravam muito as queimadas, impactando severamente todos os biomas. E a expectativa é de que até setembro, com o longo período de estiagem, o número de incêndios deva aumentar significativamente e de forma preocupante.
Fonte: Hoje em Dia.