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Minas teve mais homicídios que o esperado

Por Dentro De Tudo:

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O desempenho da segurança pública na repressão e contenção dos homicídios em Minas Gerais no ano de 2022 foi abaixo das expectativas da Polícia Militar (PMMG). É o que mostra o resultado do relatório anual da Gestão de Desempenho Operacional (GDO) das unidades militares.

Em Minas Gerais, a corporação buscava impedir os crimes de modo a ter uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes que não ultrapassasse 9,99. No entanto, após um ano e 2.492 assassinatos computados no relatório, o resultado foi uma taxa de 11,64 homicídios por 100 mil habitantes, o que corresponde a 16,53% acima do esperado. A corporação afirma que é um dos atores responsáveis pelos níveis de criminalidade.

As metas de contenção da criminalidade que resultam em homicídios também não foram alcançadas em 16 das 19 Regiões Militares (RPM) nas quais a PMMG divide o estado de Minas Gerais (confira a tabela). As RPMs com mais altas taxas de mortes foram: Teófilo Otoni, Governador Valadares e Santa Luzia (Grande BH). As metas só foram superadas na 18ª RPM (Poços de Caldas), 13ª RPM (Barbacena) e 16ª RPM (Unaí).
 

Por mais que pareça controverso, o combate a crimes como o tráfico de drogas pode contribuir para o aumento da violência entre as quadrilhas, de acordo com a avaliação de especialistas.

“As operações contra o tráfico precisam ser planejadas para impactos reais e vir acompanhadas de uma malha preventiva e protetora para evitar que ocorram homicídios e outros crimes como consequência. Os termômetros da GDO auxiliam no sentido de  organizar as estratégias táticas operacionais, mostrando onde há fragilidades”, afirma o especialista em inteligência de estado e segurança pública, coronel Carlos Júnior.

 

A área de pior contenção de homicídios e por isso com maior taxa de mortes por 100 mil habitantes foi a 15ª RPM, com sede em Teófilo Otoni, e que abrange 60 municípios, tendo batalhões sediados em Almenara e Teófilo Otoni, além de Companhias de Polícia Militar Independentes em Araçuaí e Nanuque, com uma população de aproximadamente 900 mil pessoas. A área é permeada pelas rodovias BR-381 e BR-116, fazendo parte da divisa com os estados da Bahia e do Espírito Santo.

REPRESSÃO Os 166 homicídios registrados na região militar representaram alta de 20,38% na meta que se projetava atingir, sendo, ainda, 22,22% superiores às mortes registradas no ano de 2021. “Nessa região, ocorreu nitidamente uma forte repressão ao tráfico pela polícia, durante seis meses, inclusive motivado pela morte equivocada de um casal ligado às forças de segurança por traficantes.

Sem a dinâmica do tráfico, outros traficantes cobram suas dívidas com a vida dos devedores. Um dos responsáveis pelas execuções acabou sendo neutralizado, respondendo às suas ordens por quase 50% dos homicídios da RPM”, acrescenta o coronel.

 

A segunda RPM de taxa mais alta de mortes por 100 mil habitantes é a 8ª, sediada em Governador Valadares, muito próxima à de Teófilo Otoni. Ela abrange 58 municípios e batalhões em Governador Valadares e Guanhães, e três companhias independentes.

A região é cortada no sentido Norte-Sul pela rodovia BR-116 (Rio-Bahia) e no sentido Leste-Oeste pelas BR-381 e BR-259 e, ainda, no mesmo sentido pela Ferrovia Vitória-Minas.

 

Em terceiro lugar e com os índices mais altos de homicídios da Grande Belo Horizonte está a 3ª RPM, com sede em Santa Luzia, compreendendo ainda Vespasiano, São José da Lapa, Ouro Preto, Mariana, Itabirito, Diogo de Vasconcelos, Sabará, Caeté, Taquaraçu de Minas, Nova União, Nova Lima, Raposos, Rio Acima, Lagoa Santa, Confins, Santana do Riacho e Jaboticatubas.
 

Em 11 de abril de 2022, Roni Peixoto, um dos maiores traficantes de Minas Gerais e antigo “dono” da Pedreira Prado Lopes, em BH, conhecido como braço direito de Fernandinho Beira-Mar e ex-líder da organização criminosa Comando Vermelho, foi morto a tiros em Santa Luzia, dentro de um carro, no Bairro Santa Matilde. Dois suspeitos cercaram o veículo e atiraram nele pela janela, fugindo depois em um carro que os aguardava.
 

“O que vemos em Santa Luzia é um tráfico espraiado e uma repressão às vezes não tão qualificada, que poderia se unir a forças como a Guarda Municipal. É também uma área de sítios onde grandes traficantes buscam guarida ou resolvem suas questões. Assim era Esmeraldas há poucos meses, mas a repressão qualificada mudou essa dinâmica lá. Santa Luzia precisa do mesmo remédio: mais operações preventivas. As ações repressivas não podem suplantar as preventivas”, analisa o especialista.

O que é o GDO?

O Relatório da Gestão de Desempenho Operacional (GDO) estabelece parâmetros, organiza e disciplina os indicadores monitorados pelas unidades militares, segundo a PMMG.

“Fez-se necessária a adaptação das metodologias utilizadas para o acompanhamento da Criminalidade e da Produtividade Operacional na PMMG. Para tanto, foram definidos indicadores de ações estaduais, de ações qualificadas, de ações preventivas, de ações de meio ambiente e trânsito, e de ações regionalizadas.

Com base nesses indicadores, adotou-se a metodologia estabelecida pelo Comando-Geral, para fins de mensuração e acompanhamento do resultado obtido nas ações de enfrentamento à criminalidade pela PMMG”, informa 

a corporação.

Metas não foram atingidas por cinco batalhões em BH

As metas de contenção das taxas de homicídios por 100 mil habitantes em Belo Horizonte também não foram atingidas em 2022, segundo o relatório anual da Gestão de Desempenho Operacional (GDO) das unidades da Polícia Militar de Minas Gerais.

Dos oito batalhões responsáveis pela segurança na capital mineira, cinco não atingiram as metas estipuladas (veja na tabela) sendo o pior deles o 41º Batalhão da Polícia Militar (BPM), na Região do Barreiro.

Os únicos que contiveram satisfatoriamente a violência foram o 1º BPM, que polícia o perímetro da Avenida do Contorno, com 55,24% homicídios abaixo da taxa projetada, seguido pelo 22º BPM (Centro-Sul) e o 16º BPM (Região Leste).

 
Com 63 homicídios registrados dentro de sua área de abrangência, o 41º BPM chegou a uma taxa de homicídios de 21,5 por 100 mil habitantes – se fosse um região militar seria a pior de todo o estado. O resultado ante uma meta de 15,7 é 36,96% pior do que o esperado.
 
Em termos de distância da meta de menos homicídios, o batalhão com os resultados piores foi o 5º BPM, com a incumbência de trazer segurança para a Região Oeste de Belo Horizonte, onde as 35 mortes de 2022 elevaram o índice de homicídios a 14,83 por 100 mil habitantes, 66,59% acima do projetado como ideal.
 
“O Barreiro se tornou um terreno de disputa entre uma grande facção de fora de Minas Gerais, que age como empresa, e outra oriunda do Rio de Janeiro, que age com agressividade, mas que está instalada em Contagem, Betim e Ibirité. Essa última resolve os conflitos no Barreiro, uma região mais afastada e de necessidades mais específicas em BH”, avalia o coronel Carlos Júnior.

Uma das formas de controlar essas facções e que, segundo o especialista, já está em curso é um memorando operacional que reúne todas as inteligências das unidades policiais desses municípios e regiões, as integrando em operações que tenham o  mesmo interesse.

Redução contínua A PMMG informa que a Gestão de Desempenho Operacional (GDO), é uma ferramenta interna utilizada pela corporação, a partir de metas estipuladas ano a ano, conforme a dinâmica criminal. Por meio desta gestão de desempenho cirúrgica, a PMMG tem contribuído para a redução contínua da criminalidade violenta em Minas Gerais. “Destaca-se, ainda, que o combate ao crime violento envolve todas as forças de segurança pública, inclusive por meio de ações integradas operacionais, preventivas e de inteligência”, informou a corporação. 

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