O caso da morte de Alícia Valentina, de 11 anos, espancada por colegas em uma escola pública de Belém do São Francisco (PE), reacendeu o alerta sobre a violência extrema em instituições de ensino no país. A agressão, registrada em boletim de ocorrência, teria ocorrido após a menina recusar um envolvimento romântico com um dos agressores. Alícia morreu no dia 7 de setembro, no Recife, após quatro dias internada.
Segundo levantamento nacional, pelo menos 39 pessoas morreram em ataques violentos em escolas brasileiras entre 2001 e 2025. Esses episódios, que já somam 42 ocorrências de violência extrema, vêm crescendo nos últimos anos, com destaque para o pico registrado em 2023.
Tipos de violência escolar
Pesquisas mostram que a violência nas escolas vai muito além dos ataques fatais. Ela envolve bullying, agressões físicas e psicológicas, violência institucional (como racismo e homofobia), violência estrutural e cyberagressões. Em 2023, metade dos casos registrados foi de agressão física, seguida por violência psicológica/moral (23,8%) e violência sexual (23,1%).
A maioria dos ataques extremos é cometida por homens, geralmente estudantes ou ex-estudantes, muitas vezes após planejamento prévio. Embora armas de fogo sejam utilizadas, facas, machadinhas e coquetéis Molotov também aparecem entre os instrumentos de violência.
O que explica o aumento da violência
Um estudo da Fapesp que analisou os casos de 2013 a 2023 apontou fatores que contribuem para o aumento da violência escolar:
- desvalorização da carreira docente;
- banalização de discursos de ódio;
- precarização da infraestrutura escolar;
- influência de agressões domésticas;
- falhas na mediação de conflitos;
- despreparo das redes de ensino para lidar com questões como racismo e misoginia.
A pesquisadora Telma Vinha, da Unicamp, destaca que a violência escolar é um fenômeno multifacetado, que envolve desde conflitos entre colegas até crimes de ódio motivados por preconceitos.
Medidas de combate e necessidade de prevenção
Após ataques de grande repercussão em 2023, o governo federal anunciou ações emergenciais, como reforço de segurança, patrulhamento em escolas, apoio de psicólogos e assistentes sociais e a criação do Observatório de Violências nas Escolas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também liberou R$ 150 milhões para intensificar medidas de segurança em creches e escolas.
Especialistas, contudo, alertam que medidas reativas não são suficientes. Para a professora Luciene Tognetta, da Unesp, é necessário adotar políticas de prevenção, com formação inicial e continuada de professores e gestores para identificar situações de risco, além de estimular o diálogo direto com os alunos.
“Não adianta excluir os maiores interessados dessa discussão. Os estudantes são, ao mesmo tempo, vítimas, agressores e testemunhas. É preciso restabelecer relações de confiança e construir uma frente ampla de prevenção”, defende Tognetta.
O caso de Alícia Valentina escancara não apenas a crueldade das agressões entre pares, mas também a urgência de políticas públicas que atuem de forma preventiva, buscando garantir um ambiente escolar mais seguro para crianças e adolescentes em todo o país.
📸 Fotos: Reprodução/Redes sociais; Thalita Ferraz/g1
📰 Fonte: g1