Um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, mesmo com o recorde de 101,3 milhões de pessoas ocupadas em 2024, as desigualdades entre homens e mulheres seguem firmes no mercado de trabalho brasileiro. Os dados, publicados na nova edição da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), mostram que somente 49,1% das mulheres estavam empregadas no último ano, enquanto entre os homens o índice atingiu 68,8%. A diferença se mantém praticamente estável desde 2012, mesmo com o fato de que as mulheres possuem, em média, maior escolaridade.
O estudo indica que a distância entre homens e mulheres se explica essencialmente pela divisão desigual do trabalho doméstico e dos cuidados familiares, responsabilidades que recaem majoritariamente sobre as mulheres. Essa sobrecarga reduz o tempo disponível e limita oportunidades profissionais. Além da barreira na ocupação, a desigualdade salarial continua evidente. Em 2024, as mulheres receberam, em média, apenas 78,6% do rendimento dos homens. Em setores como comércio e serviços, essa proporção é ainda menor e pode chegar a pouco mais de 60%. A única área em que a remuneração feminina supera a masculina é nas Forças Armadas e forças policiais, embora seja um segmento de pouca representatividade no conjunto da economia.
A pesquisa também mostra que, mesmo entre pessoas com ensino superior, as mulheres permanecem atrás dos homens em nível de ocupação. Muitas delas ainda estão concentradas em atividades precárias, como o trabalho doméstico sem carteira assinada, que atingiu 9,4% da força feminina em 2024. Outro dado que reforça o cenário de desigualdade é a subutilização: 20,4% das mulheres queriam trabalhar mais, mas não conseguiam oportunidades; entre os homens, o índice caiu para 12,8%. A desigualdade se torna ainda mais intensa quando o recorte é racial, já que mulheres pretas e pardas apresentam as maiores taxas de subutilização e pobreza entre todos os grupos avaliados pelo IBGE.
Enquanto isso, o grupo de trabalhadores com 60 anos ou mais vem ganhando espaço. Em 2024, o nível de ocupação entre idosos chegou a 24,4%, o maior da série histórica, o que significa que um em cada quatro brasileiros dessa faixa etária estava trabalhando. O avanço ocorre devido ao aumento da expectativa de vida, que chegou a 76,6 anos no ano passado, e também por causa das mudanças trazidas pela reforma da Previdência em 2019, que ampliou o tempo mínimo de contribuição e levou muitas pessoas a permanecerem mais tempo no mercado. Mesmo assim, a informalidade é predominante: cerca de 55,7% dos idosos trabalham sem proteção previdenciária, número que sobe para mais de 60% entre idosos pretos e pardos. O rendimento médio desse grupo ficou em aproximadamente R$ 3,5 mil, mas a desigualdade de gênero também aparece aqui, já que homens passam dos R$ 4 mil, enquanto mulheres idosas recebem cerca de R$ 2,7 mil.
No panorama geral, o Brasil viveu em 2024 uma das recuperações mais consistentes do mercado de trabalho desde 2012. A taxa de desemprego recuou para 6,6% e a taxa de subutilização caiu para 16,2%. Ainda assim, a informalidade segue elevada: 46,5% dos trabalhadores atuam sem vínculo formal ou sem contribuição previdenciária. O setor de serviços continua sendo o principal responsável pela absorção de mão de obra, com destaque para transporte, construção, comércio e outros serviços.
Apesar da melhora nos indicadores gerais, a pesquisa destaca que mulheres, pessoas negras e trabalhadores mais vulneráveis continuam enfrentando desigualdades estruturais que dificultam o acesso a empregos de qualidade, melhores salários e condições dignas de trabalho.
Foto: WOCInTech/Nappy
Texto original: g1














