Um produto essencial na vida de qualquer mulher disputa espaço com o material didático bem arrumado nas prateleiras da Escola Estadual Celmar Botelho Duarte, no Bairro Providência, na Região Norte de Belo Horizonte. Graças às vaquinhas feitas entre os educadores, absorventes higiênicos fazem parte do cotidiano do colégio e servem a alunas vítimas de pobreza menstrual, problema comum na sociedade brasileira e contra o qual Minas Gerais se lança nesta quarta-feira (08/6).
Campanha vai mobilizar empresas, educadores e instituições particulares de ensino na doação de absorventes a estudantes das escolas públicas municipais e estaduais localizadas em vilas e favelas e a mulheres em situação de vulnerabilidade, moradoras da periferia.
A campanha Adote um Ciclo é uma iniciativa do Instituto ELA – Educadoras do Brasil, organização sem fins lucrativos que visa elaboração de ações afirmativas na área educacional e cuja missão é fortalecer e cuidar de mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade social, emocional e profissional.
O projeto está presente também em Brasília e nos estados de São Paulo, Amazonas, Paraná e Rio de Janeiro. Já arrecadou mais de 310 mil unidades de absorventes e tem mais de 23 mil meninas com pelo menos um ciclo adotado. Em Minas, os absorventes arrecadados serão entregues às diretoras das escolas municipais e estaduais responsáveis por fazê-los chegar às suas respectivas alunas e às associações de bairros que apoiam as mulheres em situação de vulnerabilidade.
Em Minas, o instituto chega por meio da diretora do Colégio Santa Dorotéia, Zuleica Reis, e Renata Gazinelli, do Sistema de Ensino Bernoulli. A intenção é ampliar as ações do ELA, que contam ainda com campanhas no combate à violência contra a mulher e Selo de Responsabilidade Social Feminina.
O selo é atribuído a escolas, empresas e universidades que respondam a pelo menos três critérios, entre os quais percentual determinado de mulheres no quadro de empregados, o papel desempenhado durante a gravidez das funcionárias, se contrata estagiárias mulheres e se inclui na cesta básica absorventes higiênicos. “São alguns pontos que nos ajudam, enquanto mulheres, a ter condições de igualdade”, afirma a vice-presidente Instituto ELA, Sandra Garcia, fundadora da organização ao lado de Sonia Colombo.
A primeira escola a entrar no Adote um ciclo é o Colégio Santa Doroteia, no Bairro Sion, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A instituição, que vai aderir ao selo de responsabilidade, já tem 2 mil pacotes de absorventes arrecadados. Eles serão doados à Maternidade Odete Valadares, na capital; às escolas estaduais Celmar Botelho Duarte e São Pedro e São Paulo, no Bairro Piratininga, na Região Norte de BH; e às casas de acolhida de meninas de rua Tio Flávio.
A escola conta ainda com 22 voluntárias encarregadas de buscar adesão de empresas e escolas particulares. Toda escola que aderir será um ponto de arrecadação para a população em geral. “Não podemos ficar de braços cruzados com a questão da pobreza menstrual”, afirma Zuleica.
Na escola Celmar Botelho, que atende meninas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, a diretora Cláudia Aparecida Pereira, há 11 anos à frente da instituição, conta que o problema da pobreza menstrual foi percebido logo no início da gestão. “A demanda foi aparecendo no dia a dia e a escola percebeu que era preciso comprar os absorventes para atender imprevistos e aquelas meninas cujas famílias não têm condições financeiras para isso”, diz.
“Fazemos vaquinhas, professores doam e minha vice, Maria Margareth Ozório, preocupada com a situação, também sempre deixa pacotes. Não falta absorvente na nossa escola, mas tiramos do próprio bolso para comprar”, conta. Para Cláudia, a campanha é também um bom instrumento de conscientização: “Todo mundo sabe desse problema, mas finge que não existe. Não há uma preocupação da sociedade”.
Sandra Garcia lembra que só em São Paulo levantamento aponta 39 mil meninas em situação de pobreza menstrual, que passam por constrangimento, deixam de ir à aula ou ao trabalho por não conseguirem comprar absorvente. “É um problema de saúde pública que afeta a intimidade da mulher”, diz.
“Acreditamos que por meio da educação vamos transformar. Por mais que vejamos o mundo caótico, na luta contra um vírus invisível, é naquilo que é visto e sentido por nós que dá para agir, com amor e esperança de que vamos conseguir mudar algo.”