A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou a liberação de autotestes para Covid-19 no Brasil nesta quarta-feira (19). A decisão teve como justificativa a ausência de uma política pública por parte do Ministério da Saúde e tem o aval dos especialistas Gulnar Azevedo e Dirceu Greco, ouvidos pelo Hoje em Dia.
A discussão sobre o autoteste ganha fôlego diante da explosão de casos do Covid em meio ao avanço da variante Ômicron no Brasil. O cenário tem evidenciado o problema na capacidade de testagem em várias cidades do país, onde faltam testes ou os resultados demoram mais que o dobro do tempo previsto.
Para a eidemiologista e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Gulnar Azevedo, a Anvisa está correta em não aprovar o autoteste sem que exista um planejamento que inclua a distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“A decisão foi acertada e precisa ser cobrada uma política do Ministério da Saúde. Se o SUS não fornecer o autoteste, vai aumentar a desigualdade, já que só quem tem dinheiro vai conseguir obter o equipamento em farmácias”, comenta a epidemiologista, que esteve à frente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) entre 2018 e 2021.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou, no dia 10 de janeiro, que é difícil pensar em uma política pública para o tema, mas que não se opõe à venda dos autotestes em farmácias.
Azevedo afirma que os autotestes são importantes para diminuir a subnotificação e a fornecer orientação de isolamento para pessoas com Covid, como forma de evitar a propagação do coronavírus. Para isso, no entanto, é imprescindível que exista um sistema eficiente de controle dos resultados.
“Os resultados têm que ser rastreados e, com isso, a gente vai avançar no sentido de controle da doença. Um sistema de informação que contabilize o resultado e oriente sobre o tempo necessário de isolamento em caso positivo, tem que estar no plano que o ministério precisa apresentar”, afirma.
O professor da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Dirceu Greco, explica que o autoteste é similar ao teste rápido feito em farmácias, com amostra nasal coletada a partir de uma espécie de cotonete. Ele também considera indispensável a distribuição do equipamento pelo SUS.
“É preciso reforçar o sistema público e alcançar mais pessoas. Seria um jeito de diminuir a subnotificação e também de ter alguém para orientar, nem que seja um algoritmo de um sistema como o ConecteSUS”, afirma o infectologista.
A Anvisa deu 15 dias para que o Ministério da Saúde apresente uma política pública para que a agência volte a discutir a liberação dos autotestes. Gulnar Azevedo destaca que é importante oferecer mais uma modalidade de testagem à população brasileira.
“Se o ministério tem interesse, ele consegue fazer isso rapidamente. Cabe à Anvisa cobrar e é preciso também uma pressão da sociedade para que o Brasil possa fazer como outros países e enfrentar a pandemia da forma correta”, avalia.
Alívio em postos de saúde, laboratórios e farmácias
“Eu passei em uma farmácia e fiquei impressionado com as filas e com a demora no resultado. Receber um teste negativo tem várias implicações, a mais otimista é que a pessoa não está infectada neste momento. Mas a demora no resultado e a aglomeração no local do teste pode mudar esse resultado”, comenta Dirceu Greco.
O professor da UFMG acredita que os autotestes podem aliviar o movimento em laboratórios e farmácias, mas, sobretudo, em postos de saúde, onde as aglomerações interferem no atendimento de pacientes com sintomas.
“O autoteste dificulta a transmissão do vírus, diminui a procura nas unidades de saúde, onde pode ser até um foco de transmissão. E faz com que mais pessoas possam saber seu resultado e evitar contato social”, conclui Gulnar Azevedo.
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