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Obesidade: congresso discute efeito da perda de peso em outras doenças

Por Dentro De Tudo:

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O sobrepeso e a obesidade estão aumentando rapidamente entre a população brasileira: um estudo publicado esta semana calcula que 75% dos adultos estarão acima do peso nos próximos 20 anos. É neste cenário que acontece, em São Paulo, o Congresso Internacional sobre Obesidade 2024 (ICO). Desde quarta-feira (26/6), o encontro reúne médicos de todo o mundo para um grande debate sobre os impactos do excesso de peso para a saúde e estratégias de tratamento.

Se antes o foco estava na perda de peso, agora o objetivo dos médicos é melhorar outros aspectos da saúde do paciente a partir do emagrecimento, como a redução doenças cardiovasculares, insuficiência cardíaca, apnéia obstrutiva do sono, doenças renais e hepáticas. E os remédios antiobesidade fazem parte dessa mudança de paradigma.

Uma doença de vários fatores

A obesidade é uma doença crônica complexa com grandes impactos na qualidade de vida do paciente. Ela aumenta as chances de diagnóstico de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, pode afetar a saúde óssea e reprodutiva e elevar o risco para 13 tipos de câncer.

“Existem mais de 200 doenças associadas à obesidade e que impactam a saúde metabolicamente, com a distribuição da gordura nos órgãos; de forma mecânica, com dor nas articulações; inflamatória, relacionada por exemplo ao risco de desenvolver câncer; e de maneira psíquica”, afirma o médico Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).

O ICO deste ano também trouxe o pesquisador Carlos Monteiro, criador do termo “alimentos ultraprocessados” e o médico Kevin Hall, pesquisador sênior no National Institute of Diabetes & Digestive & Kidney Diseases (NIDDK), do National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, apresentando pesquisas que comprovam como o consumo exagerado dessa classe de alimentos faz com que as pessoas comam mais.

“Os dois pesquisadores trouxeram dados muito robustos mostrando que o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado à maior incidência de obesidade, diabetes, doença cardiovascular e outros problemas de saúde”, conta o médico Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Segundo um levantamentos da OMS, as taxas de obesidade em adultos praticamente triplicaram desde 1975 e se elevaram em cinco vezes em crianças e adolescentes. No Brasil, segundo o IBGE, a condição deve atingir quase 30% da população adulta do país em 2030

Medicamentos antiobesidade

O assunto mais falado do momento entre quem lida com a obesidade são os novos medicamentos para perda de peso. Os médicos consideram que remédios como o Ozempic, Wegovy, Mounjaro e similares podem mudar a forma como a obesidade e outras doenças relacionadas ao excesso de peso são tratadas.

“Hoje, temos mais opções que conseguem levar a uma perda de peso suficientemente grande para realmente ter mudança nos desfechos. Os tratamentos medicamentosos antigos levavam a perdas médias de 5% a 10%. Agora, temos remédios com muito mais eficácia”, explica Halpern.

Na visão do presidente da Abeso, os medicamentos podem proporcionar um tratamento combinado para diferentes doenças. “Antes, o indivíduo tinha cinco doenças – obesidade, osteoartrose, apneia do sono, gordura no fígado e diabetes – e tinha que tratar cada uma delas. Agora, com novos tratamentos, controlando a obesidade, ele pode ter a melhora de todas essas condições”, afirma o presidente da Abeso.

Cada vez mais estudos mostram que tratar a obesidade melhora os casos de apneia do sono, doenças do fígado, artrose e doenças cardiovasculares, por exemplo. “As pesquisas têm demonstrado que estes tratamentos impactam positivamente múltiplas doenças associadas à obesidade, além da perda e do controle do peso”, lembra Miranda.

O cardiologista Luciano Drager, presidente da Associação Brasileira do Sono, explica que com a perda de peso, há melhora da pressão arterial, dos marcadores de inflamação e da carga de oxigênio no sangue.

“Essa nova classe de medicamentos ajuda, além da perda de peso por si só, a melhorar quadros de doenças cardiometabólicas, de processos inflamatórios e de estresse oxidativo. Eles também controlam as descargas de adrenalina no corpo e melhoram a saúde vascular, entre outras situações que vão além da redução do peso”, esclarece Drager.

O motivo por trás desse efeito ainda não está claro, mas os pesquisadores acreditam que ele possa estar relacionado à redução da inflamação do corpo.

As drogas agonistas do receptor de GLP-1 – como o Ozempic, que contém semaglutida – poderiam diminuir a inflamação. “Ainda existe muita especulação se todo o resultado é pela perda de peso ou se existem efeitos próprios da medicação. Acredita-se que os agonistas de GLP-1 diminuem a inflamação independente da perda de peso e ela é um fator de risco cardiovascular importante”, considera Halpern.

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