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Oficinas de skate do Fica Vivo! abrem novas perspectivas para jovens atendidos

Por Dentro De Tudo:

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Um backside 180, um varial flip ou um switch. Para muitos, nomes desconhecidos, mas para os apaixonados por skate, termos comuns do dia a dia. Desde a semana passada, o universo do skate invadiu as casas de milhões de brasileiros, que se emocionaram com a medalha de prata conquistada pela atleta Rayssa Leal, de apenas 13 anos, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. 

A garota fez história no Japão e se torna cada vez mais exemplo e inspiração para 24 jovens atendidos pelo Programa de Controle de Homicídios Fica Vivo!, que têm a oportunidade de aprender e praticar o esporte nas oficinas oferecidas pelas Unidades de Prevenção à Criminalidade Morro Alto, em Vespasiano, e Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. 

Desde 2015, as oficinas de skate integram o programa, que faz parte da Política de Prevenção Social à Criminalidade, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

A iniciativa nasceu de encontros entre praticantes do esporte em uma praça do Morro Alto e ganhou o nome de Skate Vivo. De lá para cá, faz parte, cada vez mais, do repertório dos jovens da região, o que fortalece o trabalho de prevenção à criminalidade no território. Segundo o último balanço da Sejusp, a região do Morro Alto registrou queda de 50% no número de vítimas de homicídios na faixa etária de 12 a 24 anos – público alvo do programa -, na comparação do primeiro semestre de 2021 com o mesmo período do ano passado.

Ferramenta

Trabalhando no Fica Vivo! desde 2017, o oficineiro Paulo Henrique Correa dos Santos é o atual responsável pelas aulas. Nesse tempo de atuação, ele se lembra da reviravolta de uma história que seguia outros caminhos. Um dos jovens atendido pela oficina do programa trabalhava em um ponto de venda de drogas e, por meio do skate, conseguiu largar a criminalidade. Hoje, segundo Paulo, o jovem trabalha de carteira assinada e já completou o ensino médio.

Para o oficineiro, o skate contribui bastante como ferramenta para a transformação social dos jovens atendidos. “O objetivo principal não é formar atletas – claro que se tivermos Rayssas e Kelvins para nos representar, seria um mérito – mas, sim, formar cidadãos”, destaca. “Por meio de rodas de conversas, conseguimos interagir e trazer um pouco da experiência de cada um, suas virtudes e suas dificuldades. Também fazemos diversos eventos culturais para unir a comunidade, além de circulações dentro e fora do território para expandir o senso crítico e mostrar para eles que o espaço é público e que as ruas, os museus e todo tipo de entretenimento existem para serem utilizados”, observa Paulo dos Santos.

No último mês de junho, o trabalho desenvolvido pelo oficineiro na região do Morro Alto resultou na produção do mini documentário Skate no Morro, a partir de um movimento com os jovens para captação de recursos da Lei Aldir Blanc. Por meio de uma série de depoimentos, o vídeo aborda como se deu a criação do Coletivo Skate Vivo e todo o processo de formação do grupo no território e suas conquistas. 

O programa

Criado em 2003, o Fica Vivo! busca prevenir e reduzir os homicídios de jovens em áreas de vulnerabilidade social, onde os índices de vítimas na faixa etária de 12 a 24 anos são altos. No primeiro semestre de 2021, nas áreas atendidas por oficinas do programa, houve uma redução de 17,8% no número de vítimas desse crime na faixa etária da iniciativa, em comparação com o mesmo período de 2020. 

O Fica Vivo! promove oficinas de esporte, cultura e arte para jovens desses territórios, além de organizar projetos locais, de circulação pela cidade e acesso a direitos institucionais. Por meio das aulas, os oficineiros e os analistas dos programas se aproximam dos adolescentes e buscam, dessa forma, tirar os jovens da criminalidade, além de traçar a dinâmica da criminalidade social dos territórios.

Esportes em alta

Cerca de 10,3 mil jovens são atendidos mensalmente pelo Fica Vivo! em todo o estado. De acordo com a diretora de Proteção da Juventude da Sejusp, Michelle Gangana Duarte, um dos objetivos é oferecer a maior variedade possível de oficinas para que uma maior diversidade de jovens seja atendida. Entre as atividades, as oficinas esportivas são as mais frequentadas pelo público-alvo. Em momentos como o atual, de Olimpíadas e outros eventos esportivos internacionais, mais jovens são atraídos.

“Observamos que, ao longo desses 17 anos, há uma maior demanda por oficinas esportivas. Elas também são as oficinas que atendem um número maior de adolescentes e jovens”, conta Michelle, explicando que a média de participantes nas oficinas de esporte é superior à média geral de todas as oficinas do Fica Vivo!. “Isso nos indica que o esporte é uma das principais formas de conseguir trabalhar com a juventude e ampliar as possibilidades de vida e os modos de existir para eles”, diz.

Para a subsecretária de Prevenção à Criminalidade da Sejusp, Andreza Gomes, a força do Fica Vivo! vem de sua criação, uma vez que a política é construída por meio do diálogo com os moradores dos territórios de atuação. “É uma política voltada para o público e construída com o público. Esse é o grande ganho da prevenção em Minas Gerais”, frisa.

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