Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estão investigando novas perspectivas sobre a origem da Doença de Parkinson, tradicionalmente relacionada a alterações no cérebro. De acordo com um estudo realizado por cientistas da Universidade de Wuhan, na China, publicado na revista científica Nature Neuroscience, a enfermidade pode ter suas raízes nos rins. A Doença de Parkinson é conhecida por afetar o controle dos movimentos e ocasionar sintomas como tremores, rigidez muscular e lentidão. Historicamente, a pesquisa sobre a doença sempre se concentrou no sistema nervoso central, mas agora os cientistas levantam a possibilidade de que a patologia possa ter início em órgãos periféricos, especificamente nos rins.
O foco principal da pesquisa é a proteína alfa-sinucleína (α-Syn), que tem sido objeto de estudo há décadas em relação ao Parkinson e outras demências conhecidas como “demências de corpos de Lewy”. Esses corpos de Lewy são depósitos anormais da proteína alfa-sinucleína nos neurônios, que comprometem o funcionamento das células nervosas e são considerados a principal marca patológica da doença. O estudo revela que esse processo inicial pode se dar nos rins. Os pesquisadores encontraram depósitos da proteína nesse órgão em 10 de 11 pacientes com Parkinson ou outras doenças do grupo. Alterações semelhantes também foram identificadas em 17 de 20 indivíduos com doença renal crônica, mesmo na ausência de sintomas neurológicos. Os autores sugerem que os rins poderiam atuar como um “ponto de partida” para a propagação da alfa-sinucleína até o cérebro.
Em adição às análises de tecidos humanos, a equipe de pesquisa realizou experimentos com camundongos geneticamente modificados. Nos animais, a injeção da proteína no rim resultou na disseminação da patologia até o cérebro. Um achado significativo foi o bloqueio dessa propagação sob certas condições, como quando os nervos que conectam o rim ao sistema nervoso foram interrompidos, reforçando a hipótese de que a comunicação entre os rins e o cérebro desempenha um papel relevante na evolução da doença.
Caso a descoberta seja confirmada em estudos maiores, isso poderá abrir novas possibilidades na prática médica. O rastreamento da alfa-sinucleína em órgãos periféricos poderia fornecer um indicativo precoce da doença, permitindo que pessoas com risco elevado sejam monitoradas antes que os sintomas motores se manifestem. Além disso, compreender a função dos rins no processo pode direcionar o desenvolvimento de terapias que atuem antes da degeneração cerebral, em fases ainda sem sintomas.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores ressaltam que este é um estudo preliminar. Serão necessários testes adicionais em humanos para validar a associação entre a função renal comprometida e o surgimento do Parkinson. Esta pesquisa se junta a outras investigações que já haviam sugerido a possibilidade de a doença ter início em órgãos periféricos, como o trato gastrointestinal ou o apêndice, antes de alcançar o cérebro.
A Doença de Parkinson pertence ao grupo das doenças de corpos de Lewy, que se caracteriza pela presença dos depósitos de alfa-sinucleína. Além do Parkinson, esse grupo inclui a demência com corpos de Lewy, que provoca declínio cognitivo e alterações comportamentais. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 10 milhões de brasileiros vivem com o diagnóstico da doença, e a prevalência deve aumentar nos próximos anos, à medida que a população envelhece.
Crédito da foto: PicsbyAnnyk para Pixabay. Fonte: G1.