O cenário de instabilidade provocado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia começa a impactar na cadeia produtiva de vários segmentos, como a do petróleo, fertilizantes e da panificação.
Com a redução na oferta do trigo nos dois países produtores, que são considerados os principais exportadores de trigo do mundo, o preço do produto no mercado internacional acabou inflacionando.
E o setor de panificação que já estava impactado com as constantes altas do dólar, algo que elevou o preço do trigo em mais de 100% nos dois últimos anos, agora enfrenta uma nova ameaça, que resultará em uma nova alta no preço da farinha de trigo, que deverá ser de aproximadamente 25%, o que demonstra uma escalada de aumentos nos preços dos insumos essenciais.
A farinha de trigo é o principal ingrediente na produção de massas, é responsável pela união dos demais ingredientes na maioria dos pães e massas fermentadas.
SITUAÇÃO EM MATOZINHOS
O Por Dentro de Tudo conversou com três donos de padarias em Matozinhos que demonstraram preocupação com o aumento.
Sandro Papa, dono da Panificadora Mister Pão, localizada no bairro São Sebastião, revelou que o valor do saco da farinha de trigo aumentou quase R$ 40. “Dependemos da farinha para tudo. Não sei o que fazer, estou tentando negociar o preço para não ter que repassar esse aumento para o cliente, mas está difícil!”, disse o empresário.
O mesmo problema também é enfrentado pelos donos das padarias Tropical e Mix Pão.
“Não é só a farinha que tem aumentado muito, os derivados de leite também. O dólar, o clima e a guerra influenciam muito nesse valor. Eu ainda não comprei a farinha dessa semana que, possivelmente, virá com esse reajuste. Geralmente consigo um desconto por comprar em maior número, mas realmente tem aumentado”, disse Felipe, responsável pela Padaria Tropical.
“A farinha que era R$70 está R$130. Com a alta do combustível vai subir ainda mais. É um momento difícil”, informou Fernando da Mix Pão.
CRISE ALIMENTAR
O presidente-executivo da fabricante norueguesa de fertilizantes Yara International, Svein Tore Holsether, diz que o mundo está a caminhar para uma crise alimentar, que poderá afetar milhões de pessoas.
Duas semanas após a invasão da Ucrânia pela Rússia, o maior problema é o trigo, um produto básico na despensa. Os fornecimentos provenientes da Rússia e da Ucrânia que, no seu conjunto, representam quase 30% do comércio mundial de trigo, estão agora em risco. Os preços globais do trigo atingiram um máximo histórico na semana passada.
Outro grande problema é o acesso aos fertilizantes. Essencial para os agricultores atingirem as suas metas de produção, ele nunca esteve tão caro, já que as exportações da Rússia pararam. A produção na Europa também caiu, graças ao aumento do preço do gás natural, um ingrediente-chave em fertilizantes à base de nitrogénio como a ureia.
Esta situação está a fazer soar alarmes para os especialistas em saúde global. O preço do milho, soja e óleos vegetais também tem subido.
Os ministros da Agricultura dos países do G7 disseram, na sexta-feira (11), que “continuam determinados a fazer o que for necessário para prevenir e responder a uma crise alimentar”.
Mas, temendo a escassez, os países já estão se voltando para dentro de si mesmos, o que poderia em última análise, deixar menos alimentos para aqueles que precisam.