Embora haja registros de tremores de terra na região há vários anos, a frequência com que eles têm ocorrido é, no mínimo, estranha. Nos últimos 30 dias foram pelo menos quatro deles, felizmente, de pouca intensidade. Segundo a Defesa Civil municipal, até o momento nenhuma ocorrência de deslizamentos, desabamentos, rachaduras ou mesmo trincas em casas foi identificada.
Em sua grande maioria, os relatos, em pelo menos 50 bairros da cidade, giram em torno de um estrondo seguido de um rápido tremor. O primeiro deles este ano ocorreu no dia 29 de abril, uma sexta-feira à noite. O segundo incidente foi no dia 16 de maio, uma segunda à noite e o terceiro, novamente, numa sexta-feira, dia 20 de maio, também à noite. No último domingo, 29 de maio, não foi diferente: novamente um estrondo seguido de rápido tremor, também noturno. Já no fim da manhã desta segunda, 30, novamente alguns moradores de Sete Lagoas relataram o fenômeno.
Vale lembrar que toda a região é cárstica, caracterizada por seu relevo com dissolução/corrosão de rochas, formando uma série de feições como cavernas, grutas, lapas, abrigos, dolinas, rios subterrâneos, paredões rochosos, lapiás, entre outros. O que, a princípio, facilita a captação de águas subterrâneas, principal fonte de abastecimento de Sete Lagoas por décadas, por outro lado leva a tremores ocasionais, que podem ser de baixa ou de alta intensidade (escala Richter).
Nas redes sociais são milhares de comentários de moradores comentando os tremores. “Sete Lagoas treme e não assusta mais ninguém. Todo dia um tremor”, comentou @sasabidx. Para @vitorgsa_2004, “tremor em Sete Lagoas já virou costume”. O perfil @ivestsouza registrou: “Galera de Sete Lagoas: apenas 3 tremores em 1 mês.”. Segundo @dayanefinel_, “está tão normal sentir tremor em Sete Lagoas que quando fala ‘terra tremeu’ ninguém assusta mais”. “Mano do céu, Sete Lagoas vai cair, não para de ter tremor”, escreveu @EduLanza02. O perfil @mateuscabralff questionou: “Mais um tremor em Sete Lagoas… Todo dia isso agora?”
A Rede Sismográfica Brasileira e o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) registraram os tremores dessa semana, pelo menos dois em menos de 24 horas. O primeiro sismo ocorreu às 18h55 de domingo e chegou a apenas 1,7 grau na escala Richter. Já na segunda outro tremor foi registrado, às 11h, e alcançou 2,1 graus. O primeiro tremor do ano, do dia 29 de abril, teve magnitude 3. Já em 16 e 20 de maio, os tremores tiveram magnitude de 2,6. A escala Richter vai até 10. Um tremor entre dois e quatro é sentido como um veículo grande e pesado passando na rua. A partir de 8 graus, podem ocorrer desmoronamentos e outros danos estruturais. Felizmente, em nenhum dos casos houve acionamento dos Bombeiros, Defesa Civil ou da Polícia Militar, além de não ter registros de qualquer tipo de dano aparente.
O professor Marcelo Peres Rocha, chefe do Observatório Sismológico da UNB, afirma que as causas dos eventos que ocorrem no Brasil normalmente “estão relacionadas a alívio de tensões tectônicas acumuladas, que atingem o limite de ruptura das rochas em determinadas regiões, em geral, onde existem falhas geológicas pré-existentes”.
Outras cidades
Não é só Sete Lagoas que vem sofrendo com os abalos sísmicos. Prudente de Morais registrou um tremor de 2.3 graus no último dia 22 de abril, por volta das 04h30 da manhã. Em Divinópolis, somente em janeiro deste ano foram 31 tremores, segundo a Rede Sismográfica Brasileira (RSB). Curvelo também registrou tremores em janeiro. No dia 14, por volta das 08h35 da manhã, houve um abalo de magnitude 2.8, segundo o Centro de Sismologia da USP. Nem Poços de Caldas, no Sul de Minas, escapou do fenômeno. No dia 24 de fevereiro o primeiro abalo ocorreu às 20h48 e os demais duraram três horas, com grau 2.7, assustando a população. Outras sete cidades do interior paulista também sentiram os tremores.
Já Montes Claros, no Norte de Minas, é considerada a cidade campeã nesse tipo de fenômeno em Minas. O último abalo foi no dia 5 de março, às 02h22 da manhã, com 2.3 na Escala Richter, de acordo os registros do Núcleo de Estudos Sismólogos da Universidade Estadual de Montes Claros (NES/Unimontes). Registros sísmicos realizados pelo Observatório Sismológico da UnB e pelo Centro de Sismologia da USP apontam que pequenos tremores de terra sucessivos ocorreram no município a partir de 1995. Os fenômenos aumentaram nos anos seguintes, principalmente, em 1999, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Segundo dados do NES/Unimontes, Montes Claros lidera o ranking mineiro de cidades com abalos sísmicos no período entre 2014-2022, com 40 ocorrências, seguido de perto por Jaíba (38). Outras três localidades também chamam a atenção pela maior incidência de abalos naturais: Itacarambi (12), Januária (7) e Curral de Dentro (6).
Reflexo internacional
Até Uberlândia, no Triângulo Mineiro, também foi alvo de tremores no último dia 10 de maio, juntamente com as cidades paulistas de Osasco e Itatiba, além da capital São Paulo, um reflexo do terremoto de magnitude 6.6 ocorrido em Jujuy, província da região Noroeste da Argentina, próxima às fronteiras com Chile e Bolívia. Segundo o Centro Sismológico Europeu, o terremoto no país hermano foi bastante profundo: 182 Km abaixo da superfície da Terra.
E Sete Lagoas?
Ao perceber o aumento da frequência dos tremores, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Turismo (Semadetur) de Sete Lagoas e a Defesa Civil do Município agiram rápido. No dia 23 de maio, o secretário Edmundo Diniz protocolou ofício endereçado ao chefe do Observatório Sismológico da UnB, pesquisador Dr. Marcelo Peres Rocha, e aos professores Dr. Marcelo Bianchi, Dr. Marcelo Assunção e Dr. José Roberto, do Centro de Sismologia da USP, solicitando cooperação para estudos e informações a respeito dos abalos sísmicos em Sete Lagoas.
“Esta solicitação é no sentido de que façamos um estudo mais aprofundado e tenhamos aqui uma central de monitoramento remoto para buscarmos a verdade sobre o que está acontecendo e mais, para que nos programemos junto com a população para possíveis ondas de abalos”, afirma o secretário municipal de Meio Ambiente, Edmundo Diniz. Segundo ele, o primeiro tremor já foi identificado. “Ocorreu por um rompimento de uma caverna subterrânea, abalando outras cidades como Curvelo e Prudente de Morais”.
O secretário esclarece ainda que a Prefeitura está buscando junto às maiores universidades do país, que têm expertise no assunto, a certeza do que vem ocorrendo e também a solução. “Estas universidades nos darão suporte para as melhores decisões do ponto de vista científico. Sete Lagoas está montando uma força tarefa com as universidades federais locais, Embrapa e professores de Geologia para, em breve, com a USP e a UNB, anunciarmos a motivação dos abalos sísmicos e as eventuais soluções que tomaremos em um curto espaço de tempo”, completa o secretário.
Defesa Civil
De acordo com o comandante Andrade, da Guarda Civil Municipal e também coordenador da Defesa Civil do Município, várias visitas estão sendo feitas aos bairros com maiores queixas de tremores para colher informações junto aos moradores. “São abalos de baixa magnitude. Por enquanto não há motivo para entrar em pânico. A questão é a grande frequência com que esses sismos vêm ocorrendo, mas ainda é muito prematuro associar isso à ação de alguma empresa. Assim que obtivermos notícias, estaremos informando”, afirmou o coordenador.
Comandante Andrade dá ainda dicas aos moradores em caso de novos tremores. “Após algum abalo, verifique as estruturas da residência, se há trincas, se há alguma dificuldade em abrir e fechar as portas e, em caso de notar alguma diferença, que faça contato imediatamente com a Defesa Civil do Município pelo telefone 153”, completa. Paralelamente, a Defesa Civil do Estado de Minas Gerais também solicitou estudo à Unimontes em relação aos seguidos tremores de terra em Sete Lagoas. O órgão estadual ficou de emitir um relatório preliminar da situação geológica do município até a próxima quarta-feira, 1° de junho.
Crédito foto: Luiz Cláudio Alvarenga