Projeto Verão: pressa em mudar corpo contribui para adesão a dietas equivocadas

Por Dentro De Tudo:

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Ainda faltam mais de três meses para a chegada do verão. Faltam só pouco mais de três meses para o verão. Essas são duas formas de ler a passagem do tempo que, embora opostas, podem passar pela cabeça de uma mesma pessoa. Sobretudo se ela é adepta daquela famigerada tendência que costuma dar as caras ainda no inverno e envolve o desejo de querer emagrecer ou mudar o corpo em pouco tempo para “ficar bem” na próxima estação. Uma prática que, renovada ano a ano, costuma ser chamada de “Projeto Verão” – que costuma gerar muita ansiedade, promovendo até a adesão a métodos heterodoxos na busca desse ideal de corpo.

É nessa época, aliás, que novas dietas começam a ganhar a praça. Neste ano, por exemplo, a moda nutricional que vem ganhando mais e mais popularidade é a alimentação biogênica, que fez a cantora Gaby Amarantos perder 14 kg.

Lembrando que a ansiedade é, de fato, muito comum em quem embarca em um “Projeto Verão” ou encare qualquer esforço de mudança de estilo de vida, incluindo adesão a uma nova dieta e/ou a uma nova rotina de atividades físicas, a nutricionista comportamental Ruth Egg adverte ser importante compreender que os resultados podem variar significativamente de pessoa para pessoa e que não existe um prazo fixo para começar a ver resultados visíveis. “Vários fatores como metas e expectativas, genética, adesão, descanso e estado de saúde influenciam o tempo necessário para obter os resultados desejados. Nesse sentido, o principal conselho que posso dar às pessoas é para que elas mantenham a constância e tenham paciência”, assinala.

Sobre a moda da vez, a alimentação biogênica, Ruth explica que o termo não é amplamente reconhecido ou estabelecido na literatura científica e na nutrição convencional. “Portanto, é possível que seja uma expressão específica utilizada em um contexto particular ou uma confusão com outros conceitos alimentares”, avisa. No caso em questão, as abordagens relacionadas à alimentação que podem ser confundidas com o termo seriam:
  
Alimentação Natural ou Não Processada, que envolve o consumo de alimentos em sua forma mais natural, evitando alimentos altamente processados e refinados. Os benefícios podem incluir: 

  • Melhor qualidade nutricional, uma vez que alimentos não processados ​​geralmente são ricos em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e fibras, o que contribui para uma dieta equilibrada e saudável; 
  • Redução de aditivos e conservantes, pois neste caso se evita a ingestão de aditivos alimentares, conservantes, corantes e aromatizantes artificiais, que podem ser prejudiciais à saúde em excesso;
  • Menor ingestão de açúcares e gorduras adicionados, já que essa dieta tende a ser mais baixa em açúcares refinados e gorduras saturadas em comparação com alimentos processados;
  • Promoção da saciedade, pois alimentos não processados, como frutas, vegetais e grãos integrais, são frequentemente ricos em fibras, o que ajuda na sensação de saciedade e no controle do apetite.

Mas a Alimentação Natural ou Não Processada também acarreta riscos, entre os quais: 

  • Dificuldade de acesso, dado que, em algumas áreas, pode ser difícil encontrar alimentos frescos e não processados, especialmente a preços acessíveis; 
  • Tempo de preparação, considerando-se que preparar alimentos não processados muitas vezes requer mais tempo e esforço do que consumir alimentos processados prontos para consumo; 
  • Desafios de armazenamento, pois alguns alimentos não processados têm uma vida útil mais curta, o que pode exigir planejamento e armazenamento adequados; 
  • Restrição excessiva, uma vez que focar muito na alimentação não processada pode levar a uma dieta muito restritiva, o que pode ser difícil de manter a longo prazo.

Alimentação Baseada em Alimentos Funcionais é outro conceito que pode estar associado à chamada alimentação biogênica. Nesta abordagem é enfatizado o consumo de alimentos ricos em nutrientes específicos que podem proporcionar benefícios à saúde além das necessidades básicas de nutrição. Os benefícios incluem:

  • Promoção da saúde específica, já que alimentos funcionais contêm compostos bioativos que podem oferecer benefícios específicos para a saúde, como a redução do risco de doenças cardíacas (por exemplo, ômega-3 em peixes) ou o suporte à saúde digestiva (por exemplo, probióticos em iogurtes); 
  • Potencial antioxidante, dado que muitos alimentos funcionais, como frutas e vegetais coloridos, são ricos em antioxidantes que podem ajudar a combater o estresse oxidativo no corpo.

Por outro lado, são riscos da Alimentação Baseada em Alimentos Funcionais

  • Expectativas irreais, quando a pessoa que aderiu a essa dieta passa a esperar que alimentos funcionais resolvam todos os problemas de saúde, ignorando que eles são parte de uma dieta equilibrada, mas não representam uma cura milagrosa; 
  • Custo, que se torna um complicador à medida que alguns alimentos funcionais podem ser mais caros do que opções convencionais; 
  • Complexidade, pois encontrar e incorporar alimentos funcionais na dieta pode ser difícil, sendo importante entender como eles vão se encaixar em uma dieta equilibrada; 
  • Reações alérgicas, que ocorrem em alguns casos, quando alimentos funcionais podem desencadear alergias ou intolerâncias em pessoas sensíveis a certos compostos.

Ruth Egg alerta ainda que, antes de embarcar em qualquer dieta da moda, é recomendável consultar um nutricionista – profissional capacitado a avaliar a segurança e a adequação das distintas abordagens nutricionais para a sua saúde e as necessidades específicas de cada um. Além disso, ela deu dicas de como, diante de toda ansiedade que envolve o “Projeto Verão”, se precaver e evitar complicações:

  • Verifique a credibilidade da dieta e de seus proponentes;
  • Evite seguir planos alimentares que não sejam baseados em evidências científicas sólidas e que não sejam respaldados por profissionais de saúde confiáveis;
  • Evite restrições extremas, como dietas que excluem grupos alimentares inteiros ou impõem restrições excessivas, pois tais medidas são geralmente insustentáveis a longo prazo e podem levar a deficiências nutricionais; 
  • Certifique-se de que a dieta forneça todos os nutrientes essenciais.

A nutricionista comportamental falou também sobre como se dá o processo de formatação de uma dieta eficaz. Ela explica que a escolha dos alimentos mais adequados para cada pessoa, considerando suas necessidades, preferências e objetivos, é um processo individualizado e envolve várias considerações. Algumas etapas que podem ajudar na tomada de decisão são: 

  • Avalie as necessidades nutricionais, considerando fatores como idade, peso, sexo, altura, nível de atividade física, meta de saúde da pessoa; 
  • Identifique restrições e preferências alimentares, considerando-se alergias, intolerâncias e aversões; 
  • Opte por uma dieta que inclua alimentos de todos os grupos alimentares, como proteínas magras, grãos integrais, frutas, vegetais e laticínios, ou alternativas, se for o caso – medida que ajuda a garantir a ingestão de uma variedade de nutrientes;
  • Se tiver objetivos específicos relacionados ao peso, monitore a ingestão de calorias e ajuste-a conforme necessário.

Por fim, Ruth Egg lembra que conciliar uma alimentação saudável com a prática de exercícios físicos é essencial para maximizar os resultados, melhorar o desempenho e prevenir lesões ou deficiências nutricionais. Algumas diretrizes gerais para atingir esse equilíbrio são: 

  • Opte por uma combinação adequada de carboidratos, proteínas e gorduras em sua dieta, tendo em mente que carboidratos fornecem energia, proteínas são essenciais para a recuperação muscular e as gorduras são fontes de energia duradoura; 
  • Atente-se à hidratação adequada; 
  • Realize o planejamento das refeições; 
  • Atente-se à suplementação consciente, mediante consulta com um profissional de saúde a fim de se garantir que a medida é mesmo necessária e segura; 
  • Opte por consumir de uma variedade de alimentos para garantir a ingestão de todos os nutrientes necessários, incluindo frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras; 
  • Ajuste refeições à rotina de exercícios, observando-se questões como o horário em que treina e tendo em mente que comer antes e depois do exercício é importante; 
  • Evite dietas altamente restritivas que possam levar a deficiências nutricionais ou prejudicar o desempenho; 
  • Esteja atento aos sinais do seu corpo. Se sentir fome, coma. Se estiver cansado, descanse. Respeite seus sinais de fome, saciedade e necessidade de recuperação; 
  • Ajuste a ingestão calórica de acordo com objetivos a partir do monitoramento do progresso e da realização de ajustes conforme necessário; 
  • Busque orientação profissional, lembrando que nutricionistas esportivos, por exemplo, são capacitados para elaborar um plano alimentar personalizado com base nas necessidades, tipo de exercício e metas de cada um

Fonte: O Tempo.

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