A Polícia de São Paulo está investigando duas principais linhas sobre as bebidas “batizadas” com metanol, que resultaram em várias internações e mortes no estado. Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, uma hipótese sugere que o metanol foi utilizado para higienizar garrafas reaproveitadas que deveriam ter sido recicladas, mas acabaram sendo utilizadas novamente. Outra possibilidade é que o metanol tenha sido adicionado para aumentar o volume de bebidas falsificadas. Acredita-se que o falsificador pretendia usar etanol puro, sem se dar conta de que estava utilizando um produto contaminado.
A Superintendência de Polícia Técnico-Científica confirmou a presença de metanol em bebidas de duas distribuidoras no estado. Até a manhã de segunda-feira, o estado de São Paulo registrava 192 casos de contaminação por metanol, de acordo com dados do governo. Entre eles, estavam 14 casos confirmados, que incluíam duas mortes, e 178 em investigação, com sete mortes envolvidas. A morte de uma mulher de 30 anos na cidade de São Bernardo é a terceira confirmada no estado, mas ainda não foi contabilizada no último balanço, pois a informação foi divulgada posteriormente.
No contexto das investigações, foi destacado que as regras de logística reversa não estão sendo cumpridas. Um dos insumos principais para os falsificadores é a garrafa que deveria ser reciclada, mas que acaba sendo adquirida no mercado clandestino, facilitando o processo de falsificação. Em uma coletiva de imprensa, o governador anunciou que solicitará à Justiça a destruição de garrafas, rótulos, lacres e selos apreendidos durante as ações de fiscalização. Na última semana, mais de 7 mil garrafas suspeitas de falsificação ou adulteração foram recolhidas.
Tarcísio de Freitas e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afastaram a possibilidade de envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou de outras facções criminosas, afirmando que se trata de um negócio pouco lucrativo diante do tráfico de drogas. Até o momento, os casos de intoxicação por metanol estão ligados principalmente a bebidas destiladas, como vodca e gin. Apesar disso, especialistas alertam que nenhuma bebida pode ser considerada totalmente segura neste momento, sendo o maior risco associado a destilados, especialmente aqueles incolores.
Médicos ressaltam que cerveja, vinho e chope têm menor vulnerabilidade à adulteração por metanol, devido à forma de produção e envase. A cerveja em lata é considerada a opção de menor risco, pois a embalagem dificulta a adulteração. No entanto, a detecção de metanol em uma bebida não pode ser realizada apenas pela aparência, cheiro ou sabor, já que ele não altera essas características. Para identificá-lo, são necessários testes laboratoriais, e por isso é considerado uma “substância traiçoeira”.
As autoridades recomendam que os consumidores prestem atenção a embalagens suspeitas, como lacres tortos ou rótulos mal impressos, desconfiem de preços muito baixos e sempre exijam nota fiscal. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também sugere que garrafas vazias sejam inutilizadas para evitar que falsificadores as reutilizem. Caso alguém apresente sintomas de intoxicação, a recomendação é buscar atendimento médico imediatamente e informar a origem da bebida para auxiliar nas investigações.
Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Fonte: g1