Em 2014, em um memorando público, a então CEO da Microsoft, Satya Nadella, disse aos funcionários da gigante tecnológica que “a commodity realmente escassa é, cada vez mais, a atenção humana“. Na época, o Orkut tinha acabado de morrer, o Instagram era só uma rede social de compartilhamento de fotos e o WhatsApp acabara de entrar para o ecossistema do Facebook.
Hoje, sete anos depois, Nadella não poderia ter mais razão. Nesse meio tempo, muitos estudos comprovaram que a dificuldade de manter a atenção plena em uma tarefa é, de fato, um problema na vida de praticamente todo mundo. Um estudo de Harvard, por exemplo, concluiu que trabalhadores não-industriais passam 47% do tempo em um estado de semi-distração. Já uma pesquisa do app Rescue Time mostrou que as pessoas checam seus emails 55 vezes ao dia – e, no caso de apps de mensagens, 77 vezes ao dia.
As pessoas estão dizendo que ‘dados são o novo petróleo’, mas concordo plenamente [com Nadella] que a atenção é o novo petróleo. Dados são abundantes, já a atenção é escassa e nunca teremos mais dela.
Com a expansão do trabalho remoto durante a pandemia, comportamentos como esses, que são verdadeiros ralos de produtividade, se tornaram ainda mais comuns. Mas o problema vai muito além do sentimento de fadiga e angústia de querer produzir e não conseguir. É uma questão neurológica. Alternar frequentemente a nossa atenção entre diferentes tarefas e distrações “desacostuma” o nosso cérebro a focar, por conta de um fenômeno chamado “atenção residual“.
O conceito, criado pela pesquisadora Sophie Leroy, da Universidade de Washington, ilustra como essa guerra pela nossa atenção nos prejudica. Segundo ele, quando nos distraímos da uma tarefa para checar alguma mensagem, parte da nossa atenção continua processando essa atividade secundária mesmo após voltarmos nossa atenção para a tarefa inicial. E existe uma explicação científica para isso.
No nosso cérebro, tudo se resume a impulsos elétricos que fluem por uma imensa rede de neurônios. Quando começamos a focar em algo, seja uma tarefa ou um exercício físico, células cerebrais detectam esse tráfego elétrico e passam a envolver as “estradas neurais” com mielina, uma substância que aumenta o fluxo de impulsos de um ponto a outro do cérebro. Mas isso só acontece quando você está focado. Ao se distrair, esse processo é imediatamente interrompido, e retomá-lo do início é como voltar à estaca zero – a cada nova distração.
Tudo pelo prazer da dopamina
Tarefas difíceis e complexas podem ser um pouco entediantes de resolver e, por isso, nos rendemos às distrações em busca de dopamina, um neurotransmissor que provoca a sensação de prazer. Enquanto o trabalho só gera a dopamina no longo prazo, as redes sociais fazem isso instantaneamente, exigindo quase nenhum esforço da nossa parte. Mas romper com esse comportamento e ir em busca da “dopamina de longo prazo” é possível.
“A melhor maneira de fazer isso é, de vez em quando, sentir o tédio sem fugir dele”, explica Cal Newport, autor americano e professor de ciência da computação na Universidade de Georgetown. “Com isso, seu cérebro entende que ao ficar entediado, às vezes ele será estimulado e, às vezes, não. Isso significa que, quando chegar a hora de se concentrar em algo, o cérebro vai pensar ‘ah, ok, essa é só mais uma daquelas circunstâncias em que eu não serei estimulado, e tudo bem, estou acostumado'”. Com isso, está aberto o caminho para que a mielina acelere o funcionamento do seu cérebro.
Três dicas de ouro para ter mais foco
Na pesquisa para esta matéria, a EXAME encontrou uma série de dicas que ajudam a ter mais foco – elas, inclusive, foram bastante úteis para que este repórter. Confira abaixo as principais:
- Trabalhe longe do celular (e do WhatsApp Web)É difícil focar em algo recebendo notificações a todo momento – ou tendo o celular logo ao lado para momentos de tédio. Deixe o aparelho em outro cômodo, ou pelo menos longe o suficiente para que você não o ouça vibrar. Certamente, as notificações podem esperar.
- Tente se livrar de todas as distrações – por um breve período de tempoPassar um dia inteiro de trabalho sem se distrair, na prática, é impossível. Por isso, vamos aos poucos: pode ser 30 minutos, uma ou duas horas. Já livre do celular, silencie também as notificações do computador, desligue a TV e, se for ouvir música, prefira um gênero sem vocais, como clássico ou eletrônico. Não abra emails e não responda mensagens. Esse é o seu tempo para produzir, e o resto pode esperar. Pode ser mais difícil para quem tem filhos em casa, mas funciona!
- Comece por vocêResistir às notificações de trabalho logo pela manhã não é algo que você vai conseguir do dia para a noite mas, aos poucos, é possível. Ao invés de ir da cama direto para as demandas, aproveite as primeiras horas da manhã para fazer algo que você gosta: pode ser ler um livro, se exercitar, tomar sol, assistir uma série… a única regra é que precisa ser algo que te dê prazer. É a Lei das Primeiras Coisas que, segundo Bill Gates e Jeff Bezos, melhora o humor, o disposição e a produtividade no longo prazo.