A velocidade com que o lago que banha a Lapinha da Serra tem descido assusta moradores e frequentadores do local. A área, que fica no município de Santana do Riacho, região Central de Minas Gerais, é muito conhecida pelas belezas naturais, que movimentam o turismo. Mas tudo isso está ameaçado com a possibilidade do lago secar em breve.
O alerta foi feito pela Associação Comercial Lapinha da Serra, que criou um abaixo-assinado que conta com mais de 8 mil assinaturas demonstrando apoio ao fim do rebaixamento do nível da Lagoa. Além do período de estiagem, o aumento na produção de energia tem sido responsável pela falta de água.
“Nós estamos muito preocupados com o rebaixamento do espelho d’água da represa. Em 2016 foi uma tragédia, a usina usou todo o manancial de água e deixou os peixes morrendo. Agora, a cada dia eu percebo mais ou menos 2 a 3 metros abaixo. Já tem partes da represa que estão ficando completamente secas. Nesse ritmo, em um mês o lago está seco”, reclama Teuler Reis, secretário da associação.
Teuler, que é proprietário de uma pousada que fica às margens da lagoa, diz que a situação pode prejudicar a natureza e os negócios. “O nosso temos, além de ser o impacto no turismo enorme, pois as pessoas vem aqui em busca da represa, da beleza, então elas deixam de vir. Toda a comunidade vive em torno do turismo, e tem um agravante que nós ficamos seis fechados por conta da pandemia, e agora a gente tem que viver diante dessa possibilidade de tragédia”, lamenta.
Oficialmente, a Gênesis Energia, empresa que administra a Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Coronel Américo Teixeira admite que tem feito manutenções na barragem, e por isso o rebaixamento do nível da água. Mas extraoficialmente, os moradores acreditam que, na verdade, a empresa acelerou a produção de energia que é vendida à Cemig, e por isso as duas turbinas da usina tem trabalho de forma intensa.
Prefeitura estuda medidas
A prefeitura de Santana do Riacho tem observado de perto essa questão e não descarta ingressar com ações no Ministério Público para garantir o nível da água na represa. Além disso, a fiscalização no lago foi intensificada.
“Dentro das medidas que estamos tomando, estamos aumentando a fiscalização da área de atuação da usina contra qualquer anormalidade e estamos também oficializando os MP federal e estadual, juntamente com os ofícios que nós encaminhamos para empresa e não contente com as respostas que eles nos passaram”, diz o prefeito da cidade, Fernando Burgarelli (DEM).
Em maio deste ano a prefeitura chegou a oficializar um pedido de esclarecimento para a Gênesis Energia, A resposta veio no fim de julho, mas não agradou o executivo municipal. A empresa alegou que o rebaixamento do lago é fruto de um movimento natural, devido ao tempo de estiagem, e que a única alteração na rotina tem sido a manutenção da estrutura, atendendo a um pedido da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
O ofício em resposta à prefeitura foi assinado por Rômulo Lessa, empresário que teria promovido uma falsa vacinação contra a covid-19 na garagem da empresa Saritur, em Belo Horizonte. O caso é investigado pela Polícia Federal.
A empresa não foi encontrada para comentar a situação.
MPF acompanha o caso
Devido a situação, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito para apurar se a diminuição do nível da água na lagoa está relacionada ao funcionamento da usina. O órgão solicitou que a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) acompanhe o caso. O relatório da secretaria deve ficar pronto em agosto.
Fonte: O Tempo.