O sargento Eddie Anjos foi um dos primeiros mineiros a tomar a vacina Moderna, nos Estados Unidos. Natural de Sete Lagoas, ele é diretor do Saint Joseph Clinic Health Care Center (SJC HCC), que atende veteranos de guerra, na cidade de Mishawaka, no estado de Indiana.
“Muita gente, com base em bobagens que vê na internet, não quer se vacinar. Eu, ao contrário, quis mostrar às pessoas da minha equipe que com esse gesto estou me protegendo, protegendo a comunidade onde moro e os pacientes que vêm nos procurar”, afirma. “Vacinação não é coisa de outro mundo. É coisa séria e muito importante neste momento em que vivemos para ser desprezada”, defende.
No início de dezembro, Eddie sentiu os primeiros sintomas da doença. Dezoito dias depois estava curado. Por ter anticorpos no organismo, poderia se vacinar em três meses. “E você acha que eu ia esperar tanto tempo?”, disse, um dia depois de receber a dose.
Mas na quarta-feira, durante chamada de vídeo para esta entrevista, o sargento se emocionou e, por duas vezes, chorou. Em casa, em Ohio, onde mora com o marido, o norte-americano Matt Guyette, Eddie recordou os 17 dias entre o diagnóstico e a cura da COVID-19. “Essa doença é muito pior que uma guerra. No campo de batalha, você tem estratégia. A vítima do coronavírus não sabe o que vai acontecer com ela. O vírus é traiçoeiro. Um dia te deixa mal, no outro, te engana com a sensação de bem-estar, volta e ataca novamente”, diz, lembrando um dos piores momentos de sua convalescença. “Com a doença você pensa: será que estarei aqui, amanhã?”
A família do sargento mora na região central de Sete Lagoas. O pai, Edivaldo, tem 80 anos e a mãe, Ilma, 83. Juntos com o casal, moram duas filhas – Silvana e Isabel – e um neto, Gabriel. “Ainda bem que ninguém da minha família foi contaminado pela doença. Bato sempre na madeira para isolar”, disse, emocionado. Eddie se preocupa com os pais, os seis irmãos e oito sobrinhos. Fica na dúvida de como será a vacinação no Brasil. “Vocês não têm nem seringas. E a logística para atingir áreas muito distantes como os ribeirinhos do Amazonas ou mesmo as pessoas que moram em regiões miseráveis, como será? Os ricos poderão pagar pela vacina. E quem não tem dinheiro?”, questiona.
Eddie não tem a menor noção de onde pegou o vírus. “Pode ter sido em qualquer lugar, em uma farmácia, um restaurante. O que é mais assustador, pois sigo todos os protocolos, como uso obrigatório de máscaras”. Matt não se contaminou. A mãe dele, Wini Burton, de 94, que não mora com o filho e o genro, teve a doença em sua versão branda.O casal gosta e tem prazer em receber os amigos. Nesta época do ano, a casa ficava impecável com a decoração de Natal, que, por motivos óbvios, permaneceu guardada. Sobravam luzinhas coloridas para Tulip, Clyde e Lasso, cães collies adotados, parte da família. “Este ano, no Natal, eu só agradeci.”