“Devo me preocupar?”. Na rotina que vivo dentro da cardiologia, esta é uma das perguntas que mais escuto dos pacientes quando chegamos a um diagnóstico de sopro. Porque existe um entendimento geral de que o sopro cardíaco não é exatamente um problema, mas algo a ser monitorado de vez em quando e olhe lá. Porém, trata-se de uma condição que pode, sim, ser perigosa e que deve ser acompanhada por um cardiologista com frequência.
Basicamente, o sopro cardíaco é um som anormal gerado pelo fluxo de sangue dentro do coração. Em geral, essa anormalidade pode ser detectada por um estetoscópio durante um exame físico do coração, e pode ser um sinal de que há algum problema com o funcionamento do órgão. Por outro lado, há duas variações de sopro cardíaco, e é a isso que devemos atentar.
Um sopro cardíaco “inocente”, também conhecido como sopro funcional ou fisiológico, é um som cardíaco anormal se comparado ao de um coração sem sopro, mas que não é causado por uma doença cardíaca subjacente. Esse tipo de sopro é comum em crianças – cerca de 90% dos casos – e jovens adultos saudáveis e, geralmente, não é perigoso. De qualquer forma, a avaliação de um cardiologista é fundamental para afastar de vez a preocupação. Só esse profissional é capaz de avaliar corretamente o quadro completo, que considera idade e características específicas do som.
Mas existe também o sopro cardíaco causado por uma doença das válvulas cardíacas ou por uma doença congênita. Nestes casos, o sopro é, sim, um problema mais complicado, que pode se tornar grave e que requer avaliação médica e tratamento adequado para não evoluir.
A principal diferença entre um sopro cardíaco “inocente” e um sopro cardíaco causado por uma doença é que o primeiro não está associado a outros sintomas ou anormalidades no coração, enquanto o segundo pode apresentar sintomas como falta de ar, fadiga, palpitações, inchaço nas pernas ou tornozelos, além de outros sinais de insuficiência cardíaca.
Se o seu médico detectar um sopro cardíaco durante um exame físico, ele pode encaminhá-lo para a realização de exames adicionais para avaliar a causa do sopro e determinar se é necessário tratamento.
Os exames mais comumente utilizados nesses casos são o ecocardiograma, o eletrocardiograma (ECG) e a radiografia de tórax. O ecocardiograma é o melhor exame para avaliar a anatomia e função cardíacas, bem como para verificar o funcionamento das válvulas e o fluxo sanguíneo no coração. O ECG pode ajudar a identificar anormalidades no ritmo cardíaco ou outras alterações na atividade elétrica do coração. Já a radiografia de tórax pode ser usada para avaliar o tamanho do coração e a presença de outras condições que possam afetar o coração ou os pulmões.
Em casos mais complexos, outros exames também podem ser necessários, como a ressonância magnética cardíaca, o cateterismo cardíaco ou outros testes de imagem. O médico avaliará a necessidade desses exames com base na suspeita clínica e nos resultados dos exames iniciais.
Por fim, o sopro pode não ser preocupante, e não é, pelo menos na maioria dos casos, mas somente um médico cardiologista apoiado pelos exames adequados pode chegar a essa conclusão. Assim, estabelecer uma rotina de consultas é o melhor caminho para manter em dia a saúde do coração.
* Tiago Bignoto é cardiologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.