Uma pesquisa acompanhando mais de 10 mil adolescentes nos Estados Unidos indica que receber um smartphone antes dos 12 anos está associado a maior probabilidade de problemas de saúde física e mental, entre eles sono insuficiente, obesidade e sintomas depressivos. O levantamento, baseado no Adolescent Brain Cognitive Development Study (ABCD) e conduzido ao longo de dois anos, sugere que a simples posse do aparelho — mesmo excluindo casos de uso excessivo — pode alterar rotinas e comportamentos essenciais na adolescência.
Os pesquisadores compararam jovens de 12 anos que já tinham celular com aqueles que não tinham e observaram diferenças marcantes: os que possuíam smartphone apresentaram chance significativamente maior de dormir menos do que as nove horas recomendadas para a faixa etária, risco aumentado de obesidade e maior incidência de sintomas depressivos. A idade na qual o aparelho chega às mãos também importou: a análise mostrou que, para cada ano em que o celular foi adquirido mais cedo, o risco de obesidade subiu e o de sono insuficiente aumentou de forma progressiva. Além disso, adolescentes que ficaram sem aparelho aos 12 anos, mas ganharam um aos 13, também exibiram um aumento rápido de problemas — em apenas um ano houve elevação no risco de psicopatologia e no déficit de sono.
Os autores ressaltam que o estudo não identificou, de forma definitiva, quais comportamentos mediados pelo celular explicam os efeitos observados, mas apontam caminhos plausíveis: acesso contínuo a telas pode fragmentar a atenção, estimular verificação constante e reduzir o tempo dedicado a atividades ao ar livre e à prática de exercícios, favorecendo o sedentarismo. Em paralelo, especialistas ouvidos lembram que o uso frequente de telas na infância e adolescência está ligado a alterações cognitivas, como queda na memória de trabalho e na capacidade de atenção.
Para os responsáveis por orientar famílias, a recomendação tende à cautela: adiar o primeiro celular sempre que possível, monitorar e limitar o tempo de uso e criar regras claras sobre horários e contextos de uso. Um dos autores do estudo, psiquiatra infantil, defende que a decisão de dar um smartphone aos filhos deve ser vista também como uma questão de saúde, não apenas social. Outro especialista sugere que, idealmente, o primeiro aparelho só deva ser dado por volta dos 14 anos, com controle parental sobre conteúdo e horários; ambos defendem ainda que o acesso irrestrito às redes sociais só deveria ocorrer quando o jovem tiver maturidade emocional suficiente — e alguns recomendam restrição a partir da infância até a maioridade.
Os especialistas indicam medidas práticas para famílias que optarem por antecipar o acesso ao telefone: dialogar sobre hábitos digitais e consequências, limitar o tempo de tela de lazer (com menor cota em dias de semana), impedir que o aparelho acompanhe a criança em refeições ou atividades sociais, usar ferramentas de controle parental e priorizar atividades que incentivem exercícios físicos e interação presencial. Eles também ressaltam a importância do exemplo parental: o tempo de tela dos pais tende a influenciar o comportamento dos filhos.
Embora o estudo não vise proibir o uso de smartphones por adolescentes, ele chama atenção para os efeitos observados já com posse não abusiva do aparelho e reforça que a proteção do sono, da atividade física e do convívio social presencial deve ser considerada ao decidir quando e como permitir o acesso ao celular.
Foto: Reprodução
Texto original: g1 / Poliana Casemiro (03/12/2025)
















