Cerca de 25,4 milhões de pessoas trabalham por conta própria no Brasil, e os motivos para serem autônomas são diversos. Há desde quem descobre vocação para o empreendedorismo até quem se vê sem outras alternativas para ter alguma renda a não ser essa. Nesse cenário, a renda se torna um motor definitivo para essa decisão e, enquanto as pessoas de menor renda buscam essa modalidade de trabalho principalmente porque estavam desempregadas, as de maior prezam mais pela independência, segundo a nova edição da Sondagem do Mercado de Trabalho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), divulgada nesta quinta-feira (26).
Cerca de dois terços dos autônomos brasileiros não iniciaram a carreira dessa forma. A maior parte dos trabalhadores por conta própria que migraram para essa modalidade, 57,1% deles, era empregado com carteira assinada. Outros 16% eram empregados, mas não tinham carteira assinada e 15,9% estavam desempregados. A maior parte dos trabalhadores autônomos que migrou para a categoria, 32,1% deles, tomou a decisão porque estava desempregada e precisava de renda. Em segundo lugar entre os motivos, aparece a vontade de ter independência, para 22,9% dos entrevistados pelo FGV Ibre.
Mas a conjuntura é mais complexa quando se observa as diferentes faixas de renda. Para os autônomos que recebem até dois salários mínimos mensais, o desemprego é o maior motivo para ter começado a trabalhar por conta própria e foi a resposta de 37,5% deles. Já para quem ganha acima disso, a independência é o maior motivo, para 34,5% dos entrevistados. O desemprego é a maior razão de apenas 13,4% deles.
Isso não quer dizer, entretanto, que pessoas com menor renda não busquem independência no empreendedorismo. Para 20,8% delas, ser independente é o principal fator para ser autônomo. “Mesmo na renda mais baixa, o percentual não é baixo. Eu não chamaria [o aumento de autônomos] de uma precarização generalizada. É um quadro bem heterogêneo”, pontua o coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE, Fernando Veloso.
“Passamos por crises longas: a de 2014 a 2016, depois crescimento muito baixo e a pandemia. O mercado de trabalho sentiu bastante. As pessoas que perderam sua ocupação acabaram ficando por conta própria. Para aquelas com renda mais baixa, foi muito nesse sentido, foram mais para isso por necessidade de renda extra. Para uma parcela um pouco mais baixa de quem está com renda mais alta parece ter sido, de fato, uma escolha”, completa o economista e pesquisador do FGV Ibre Rodolpho Tobler.
Os dados complementam a primeira edição da Sondagem do Mercado de Trabalho, divulgada no último mês. Ela demonstrou que sete em cada dez autônomos gostariam de trabalhar em uma empresa, em vez de continuar por conta própria. Para os pesquisadores do FGV Ibre, o desejo por autonomia e flexibilidade dos empreendedores não contradiz essa informação.
“Acho que, quando as pessoas falam que querem um vínculo empregatício, não é o vínculo que elas querem, mas a proteção social associada a ele. No Brasil e em outros países, a proteção social é para quem tem trabalho formal. Minha impressão é que as pessoas que querem a autonomia e a independência querem alguma proteção”, pondera o pesquisador Fernando Veloso.
Ele cita, como exemplo, as discussões sobre proteção para motoristas de aplicativo, que já foi mencionada pelo novo governo federal. A pesquisa do FGV Ibre também avaliou os maiores riscos temidos pela população economicamente ativa do país e o receio de ficar doente ou incapacitado é o maior deles, independentemente da renda, apontado por 58,9% dos entrevistados.
Fonte: O Tempo.