O Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)restaurou, pela segunda vez, uma escultura de Cristo do presidente Lula (PT). A imagem, que ocupou o gabinete presidencial durante os dois primeiros mandatos do petista, voltou ao Palácio do Planalto no fim de julho, após a conclusão do trabalho de conservação.
A obra foi restaurada pela primeira vez pelo Cecor em 2003, a pedido do presidente. Ao deixar o governo, em 2011, Lula levou a escultura, que faz parte de seu acervo pessoal. A peça, de estilo espanhol do século XVI, foi um presente de José Alberto de Camargo, ex-diretor da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM).
A retirada da escultura do gabinete presidencial deu origem a especulações. Mensagens hackeadas de 2016 mostram que procuradores da operação Lava Jato chegaram a suspeitar que a peça tinha sido apropriada de forma indevida pelo presidente. No entanto, no mesmo dia, descobriram que a imagem pertencia a Lula.
A escultura foi parar no Museu da República, no Rio de Janeiro, mas voltou temporariamente às mãos do presidente em janeiro deste ano. Na época, Lula disse que mandou buscar a imagem.
“Eu acho que, no tempo que ele ficou guardado, a madeira foi perdendo cor. Tantos anos, eu descubro que o meu Cristo estava no Museu da República, então eu mandei buscar e vou colocar ele aqui outra vez onde ele sempre ficou, me ajudando a governar esse país”, afirmou, em vídeo publicado nas redes sociais no dia 10 de janeiro.
A Diretoria de Documentação Histórica do gabinete do presidente apontou a necessidade de um novo processo de restauração, e a escultura foi levada para o Cecor, da UFMG, primeira instituição do país a oferecer curso de graduação em conservação-restauração de bens culturais móveis.
A obra apresentava perda de coloração, manchas, desnivelamentos na repintura da madeira e alguns membros desprendidos, degradação resultante de processos físico-químicos causados pelo tempo e pelo ambiente.
No Cecor, entre fevereiro e julho, a peça passou por processos de higienização, remoção de intervenções anteriores e reintegração de lacunas. Como ela fica com a parte dos pés encostada na parede do gabinete presidencial, os restauradores também desenvolveram um novo suporte para a fixação do crucifixo.
Segundo a diretora do Cecor, professora Alessandra Rosado, o trabalho buscou preservar a antiguidade da imagem.
“Se você observar bem, percebe que está faltando um dente na imagem, falanges de dedos das mãos e alguns espinhos da coroa. Poderíamos ter complementado essas falhas, mas optamos por um trabalho de restauração com objetivo de manter sua antiguidade”, explicou a professora, que era estudante de mestrado quando participou da primeira recuperação do crucifixo, em 2003.
No último dia 24, a escultura foi entregue ao presidente.
“Me emocionei hoje com o retorno da escultura de Cristo, que me acompanhou nos meus dois primeiros mandatos, para o gabinete presidencial”, publicou Lula nas redes sociais.
Fonte: Globo Minas. Foto: Ricardo Stuckert/ PR