Um em cada quatro profissionais LGBTQIA+ de Minas Gerais já foram assediados no trabalho, mostra pesquisa

Por Dentro De Tudo:

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Dados relativos a Minas Gerais de uma pesquisa realizada com empresas de todos os estados brasileiros, de diferentes setores da economia, mostram que um em cada quatro profissionais LGBTQIA+ já foram assediados no ambiente de trabalho.

De acordo com a classificação utilizada no estudo, assédio é o ato de ofender explicitamente alguém por conta de sua característica. Dos mineiros que informaram na pesquisa já terem sido assediados no trabalho, apenas 29% chegaram a relatar o caso nos canais de comunicação disponibilizados pelas empresas. O baixo índice de relato pode indicar, segundo os pesquisadores, receio de represálias, indicador de que o ambiente é predominantemente negativo para as pessoas LGBTQIA+.

Ainda segundo o estudo, apenas 28% de todos os profissionais do estado acreditam que não há preconceito e discriminação contra pessoas LGBTQIA+ no dia a dia de trabalho.

Realizado pela consultoria Santo Caos, o levantamento coletou informações de quase 20 mil trabalhadores de todas as faixas etárias entre novembro de 2020 e abril de 2022. O conteúdo está disponível gratuitamente para a população no site.

Minas tem representatividade acima da média

A representatividade de pessoas LGBTQIA+ nas empresas em Minas Gerais é de 12%, contra 88% daqueles que não fazem parte desse grupo. O índice está um pouco acima da média nacional revelada pela pesquisa, que é de 10% de profissionais LGBTQIA+ nas empresas brasileiras. Em relação aos mineiros LGBTQIA+ que ocupam posições de liderança nas empresas, o número cai para 11% – no recorte nacional o índice é ainda menor, com apenas 8%.

Minas é um dos estados brasileiros onde as pessoas LGBTQIA+ mais revelam orientação sexual (61%) e identidade de gênero (44%) para colegas de trabalho, acima das médias do país. Os índices nacionais desses temas são, respectivamente, de 55% e 40%.

A pesquisa ainda revela que, no cenário corporativo mineiro, há grande discrepância em relação à quantidade de pessoas que recomendam a empresa na qual trabalham se comparados os números do grupo LGBTQIA+ e daqueles que não fazem parte dessa população.

O estudo da Santo Caos mostra que 43% dos mineiros LGBTQIA+ estão dispostos a indicar, para terceiros, a empresa na qual trabalham; já em relação às pessoas não LGBTQIA+, o mesmo índice sobe para 67%. Nacionalmente, o estudo aponta que 48% das pessoas LGBTQIA+ revelaram sua orientação sexual ou identidade de gênero para alguém no trabalho.

O número maior de eNPS – sigla em inglês para employee net promoter score, classificação comumente utilizada para medir a propensão de recomendação de uma empresa – entre as pessoas não LGBTQIA+ indica, segundo os pesquisadores, a toxicidade do ambiente de trabalho em Minas Gerais para quem faz parte do grupo LGBTQIA+.

Números em âmbito nacional

De acordo com os dados da pesquisa, a população LGBTQIA+ representa 10,4% (2.034 pessoas) do universo de 19.488 profissionais ouvidos ao longo de um ano e cinco meses. Esse público está menos disposto a recomendar a empresa onde trabalham do que aqueles que não são LGBTQIA+. Os números mostram que 40% dos entrevistados LGBTQIA+ recomendam o local de trabalho, enquanto esse índice atinge 59% entre aqueles que não são LGBTQIA+.

“O modelo de trabalho híbrido popularizado após o início da pandemia de Covid-19, com parte dos trabalhadores exercendo suas funções profissionais em suas próprias residências, vem avançando sobre a intimidade das pessoas, expondo aspectos que anteriormente não faziam parte da rotina de trabalho”, afirma Jean Soldatelli, sócio-diretor da Santo Caos.

“Nesse sentido, é necessário que as empresas se preparem de forma mais abrangente e consistente para promover o bem-estar dos colaboradores, ampliando suas iniciativas de diversidade e inclusão”, comenta Soldatelli.

LGBTQIA+ têm renda menor e ficam por períodos mais curtos nas empresas

O levantamento da Santo Caos mostra que, nacionalmente, 47% das pessoas LGBTQIA+ têm renda média abaixo de quatro salários mínimos, frente a 36% das pessoas que não fazem parte desse grupo. Em relação ao tempo de trabalho nas empresas, aqueles que se declararam LGBTQIA+ ficam aproximadamente 3,07 anos em uma companhia, ao passo que os não LGBTQIA+ permanecem em uma mesma empresa por mais tempo: uma média de 4,13 anos.

“A leitura dos dados nos permite inferir que a rotatividade maior da população LGBTQIA+ é consequência direta da discriminação e do assédio, que tornam o ambiente de trabalho mais tóxico para essas pessoas”, comenta Jean Soldatelli, sócio-diretor da Santo Caos. “Essa informação trazida pelo estudo corrobora a urgência de ações que promovam diversidade e inclusão nas empresas, criando melhores condições para esse grupo manter suas atividades profissionais”, finaliza.

 Foto: Frank May/Picture Alliance/DPA/AFP/Arquivo

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