Ainda é cedo para analisar os impactos que serão causados pela suspensão da exportação da carne bovina do Brasil para a China, anunciada neste sábado (4) após a confirmação de de casos do mal da vaca louca em frigoríficos de Belo Horizonte e de Nova Canaã do Norte (MT).
A afirmação é do doutor em economia pela Universitat Hohenheim-Alemanha e professor do Ibmec em Belo Horizonte, Paulo Pacheco. Isso porque ações sanitárias ligadas ao mercado externo podem mudar rapidamente.
“Suspensões como estas são muito comuns no mercado internacional ainda mais quando se trata do mercado brasileiro, terceiro maior exportador de carne bovina do mundo. A China é o maior mercado internacional e muitas podem ser as consequências. Mas é preciso entender que tudo isso pode mudar rapidamente”, disse ele.
Suspensão
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirmou os dois casos na manhã deste sábado. De acordo com a pasta, após a confirmação, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) foi notificada oficialmente.
No caso da China, em cumprimento ao protocolo sanitário firmado entre o país e o Brasil, ficam suspensas temporariamente as exportações de carne bovina.
“A medida, que passa a valer a partir deste sábado (4), se dará até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações já repassadas sobre os casos”, afirmou em nota.
Os dois casos confirmados neste sábado foram detectados em vacas de descarte que apresentavam idade avançada.
“Estes são o quarto e quinto casos de EEB [Encefalopatia Espongiforme Bovina] atípica registrados em mais de 23 anos de vigilância para a doença. O Brasil nunca registrou a ocorrência de caso de EEB clássica” informou o ministério.
Queda do preço
A tendência é que o preço da carne sofra uma queda por causa desta suspensão. Porém, isto não significa que o consumidor brasileiro irá sentir alívio no bolso quando for ao açougue.
“É preciso observar a movimentação de outros mercados internacionais, como a União europeia. Se ela seguir a China, aí, muita carne será desviada para mercados menores e para o mercado interno. Daí este impacto chegar ao consumidor brasileiro vai depender de tempo e também da confiança. Já que trata-se de um problema sanitário”, disse o economista.
China: maior mercado comprador
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a China segue como principal destino da carne brasileira. No mês de julho, o volume total de exportação foi de 91.144 toneladas, com crescimento de 11,2%.
“As receitas tiveram alta de 19,1% somaram US$ 525,5 milhões. Quando se observa o período de janeiro a julho de 2021, os embarques para a China já somam 490 mil toneladas e receitas de US$ 2,493 bilhões, crescimento de 8,6% e 13,8%, respectivamente, no comparativo com o mesmo período de 2020”, disse a Abiec.
Para Paulo Pacheco, ainda é muito prematuro avaliar o impacto na balança das exportações com a suspensão.
“O produtor brasileiro tem experiência em lidar com este tipo de situação e consegue remanejar a produção com rapidez. Tem que se observar quanto tempo esta suspensão vai continuar assim”, disse ele.
Queda na atividade dos frigoríficos
O caso registrado em Belo Horizonte acentuou a queda da atividade dos frigoríficos brasileiros, de acordo com a associação que representa o setor.
“A notícia da vaca louca veio neste momento em que a ociosidade nos frigoríficos que trabalham somente com o mercado interno é bastante elevada e serviu para diminuir ainda mais o negócio de aquisição de bois diariamente”, disse a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) em nota enviada nesta sexta-feira (3).