Uma síndrome rara associada à Covid-19 e que atinge crianças tem sido alvo de estudos da comunidade médica. Em Minas Gerais, já são 24 casos confirmados, sendo um deles em Pedro Leopoldo.
Os primeiros casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica surgiram na Inglaterra, em abril. Em Minas Gerais, a notificação de casos suspeitos se tornou obrigatória no fim de julho. De lá para cá, 66 registros foram notificados no estado.
Quais são os sintomas?
De acordo com o infectologista Estêvão Urbano, após um quadro inicial de Covid-19, muitas vezes leve, semanas ou meses depois, podem surgir sintomas em diversas partes do organismo. A síndrome pode atacar, por exemplo, o sistema nervoso central e, nesse caso, a criança pode ter quadros de psicose e convulsões. Pode haver também sintomas respiratórios, com falta de ar, tosse e necessidade de oxigênio suplementar. A síndrome ainda pode gerar insuficiências cardíaca e renal, além de lesões na pele. Urbano destaca que, nem sempre, as crianças apresentam todos os sintomas.
Qual a relação entre a síndrome e a Covid-19?
A relação é um dos principais pontos de estudo da comunidade médica. Segundo o infectologista, possivelmente, o vírus, ao entrar em contato com o organismo da criança, mesmo causando sintomas muito leves, pode começar a desencadear um distúrbio no sistema imunológico. Com o passar dos dias e até de meses, esse distúrbio vai se tornando mais intenso até o momento em que as próprias defesas do organismo começam a inflamar e a atacar os órgãos.
Já se sabe quais crianças diagnosticadas com a Covid-19 desenvolverão a síndrome?
Não. Segundo Estevão Urbano esse é mais um dado que acende o alerta para prevenção à Covid-19. Segundo ele, a comunidade científica ainda não conseguiu chegar a uma resposta específica sobre os motivos que levam umas crianças a desenvolver a síndrome e outras não. Possivelmente, isso estaria ligado a algum fator genético. Mas sem decifrar esse enigma, não é possível adotar medidas terapêuticas preventivas para evitar a síndrome.
Qual o perfil das crianças?
Segundo o infectologista, a grande maioria das crianças, em escala mundial, são de etnia hispânica ou negras e acima de 5 anos, às vezes até mesmo adolescentes. Mas em Minas, os números são um pouco diferentes. Na maioria dos casos, 54%, as crianças têm até 4 anos.
De acordo com Urbano, alguns estudos recentes apontam o surgimento de sintomas da síndrome inclusive em adultos.
Por que há dificuldade no diagnóstico?
Além de ser uma síndrome nova e rara, pode haver um intervalo longo de tempo entre o diagnóstico da Covid-19 e o aparecimento da síndrome. Muitas vezes, a criança pode ter tido manifestações leves da infecção pelo coronavírus, nem chegando a ser feito o teste.
Além disso, segundo o infectologista, o quadro clinico é semelhante com o de duas síndromes comuns na pediatria: a de Kawasaki e a do choque tóxico, que causada por bactérias.
De acordo com o médico, mesmo antes do diagnóstico, deve ser iniciado o tratamento precoce para cobrir todas essas síndromes, buscando salvar a criança.
A síndrome pode levar à morte?
Sim. De acordo com Urbano, a síndrome pode ser fatal. Mas ele destaca que, mesmo em casos em que não há óbito, os sintomas podem ser bastante graves, levando à internação em CTI, que pode durar vários dias.


















