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Volta às aulas: os desafios da ressocialização de crianças e adolescentes

Por Dentro De Tudo:

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A rede pública de ensino se prepara para voltar às aulas em agosto. Os que voltam, porém, não encontram o ambiente escolar do mesmo jeito. Frente à nova realidade da pandemia, o modelo de escola tradicional teve que ser reinventado. E, como consequência, o processo de ressocialização de crianças e adolescentes ganhou novos contornos, como, também, desafios.

O isolamento social foi tão complicado, que muitas crianças começaram a apresentar alterações de comportamento dentro de casa, o que levaram os pais a iniciarem terapia com psicólogos.

A psicóloga infantil Ana Rita Neves aponta que as crianças podem apresentar dificuldades de se socializarem devido ao longo período de privação do ambiente escolar. “Depois da família, a escola é o segundo contexto de socialização da criança. São nesses espaços que ela aprende regras de convivência, empatia, respeito, dentre outras habilidades tão importantes para o seu pleno desenvolvimento. Aqueles que não haviam realizado um processo de socialização adequado por conta da pandemia vão precisar realizá-lo em uma idade posterior a que normalmente ocorre.”

Ela assinala que muitas crianças voltarão com retrocessos no desenvolvimento e, por isso, é importante que pais e professores tenham paciência para que cada um se desenvolva no próprio tempo. “Não podemos tomar essas dificuldades como imaturidade da criança, mas como uma falta de oportunidade para o desenvolvimento dessa socialização. Os pais e professores são agentes importantes neste processo de readaptação social, ao fornecerem modelos comportamentais para relações sociais e mediarem relações estabelecidas entre as crianças, sinalizando aquilo que é adequado ou não, além de incentivarem uma maior autonomia social dos pequenos, favorecendo, assim, novas relações”, alerta a especialista.

Impactos na saúde emocional

A impossibilidade de frequentar a escola e praticar atividades de lazer fora do perímetro de casa, somada à perda de familiares e ao distanciamento de entes queridos, comprometeu o bem-estar social e psicológico de crianças e adolescentes. Não é à toa que muitos desenvolveram a síndrome da cabana, definida pela psicóloga Ana Rita. “É um padrão de comportamento no qual o indivíduo, após ter ficado um longo período em confinamento, apresenta respostas de medo e ansiedade ao se expor novamente à vida cotidiana, por receio de entrar em contato com uma situação aversiva, se contaminar e adoecer”.

Segundo ela, o modo como a família discute a pandemia dentro de casa afeta diretamente o comportamento dos pequenos no retorno às aulas presenciais. “No caso de pais que têm mais receio em sair por estarem mais expostos ao vírus, a dificuldade da criança em sair de casa ou uma maior ansiedade pode ser favorecida, pois, no entendimento da criança, estar fora do lar acarreta riscos”, exemplifica.

Na experiência da psicóloga escolar Rayanne Linhares, os estudantes tiveram problemas para prestar atenção às aulas on-line. Além disso, muitas começaram a apresentar níveis extremos de ansiedade durante o isolamento social. “Algumas crianças começaram a arrancar os cílios, as sobrancelhas, uma parte do cabelo. Quando ela começa a projetar no corpo o que está sentindo emocionalmente, é um sinal de que a ansiedade está alta.”

Ações lúdicas

Com a finalidade de driblar os obstáculos à saúde emocional das crianças e garantir um retorno seguro às aulas, as unidade de ensino precisam trabalhar o emocional delas de forma lúdica. Muitos deles precisam conversar e por isso, ações deste tipo para acolher e cuidar das emoções são necessárias.

Os desafios passados e futuros

Mesmo com os esforços conjuntos para garantir o sucesso da ressocialização dos estudantes no ambiente escolar, os desafios que surgiram no meio do caminho foram inevitáveis. De acordo com a psicóloga escolar, a tendência é que a maioria das crianças voltem mais introspectivas, ansiosas, temerosas, com baixo limiar a frustração, além de socialmente desgastadas.

A psicóloga aponta que crianças menores não têm um nível de abstração desenvolvido e, por isso, não conseguem compreender a situação atual.

A um passo para recomeçar

A rede pública se prepara, depois de um ano e cinco meses, para voltar ao presencial em agosto. Para tornar o funcionamento possível, as Secretarias de Educação de cada município lançaram documentos com informações sobre os protocolos em relação à covid-19.

“Neste primeiro momento, é importante criar esse espaço de escuta para entender as novas demandas que surgem. É importante saber como estão os alunos, gestores e famílias. Esse acolhimento vai se estender por várias semanas”, explica Leonardo Vieira, psicólogo escolar e gerente do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem da Secretaria de Educação.

Ele ressalta que será necessário transportar a convivência no lar para o ambiente escolar: “Uma dificuldade que vai vir, especialmente com as crianças menores, é voltar a ter esse desprendimento de novo, porque foi mais de um ano dentro de casa, vivendo intensamente com a família. Então, a gente vê um processo que é de desligamento com a família e de voltar a ter na escola outro espaço social, de encontro, de relações e, claro, de aprendizagem”.

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