‘Ponta do iceberg’: desvio de 220 armas em delegacia no Barreiro, em BH, expõe falta de estrutura

Por Dentro De Tudo:

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A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) está investigando o desaparecimento de mais de 200 armas de fogo da 1ª Delegacia do Barreiro, localizada no bairro Jardinópolis, em Belo Horizonte. Na noite do último domingo (9), a servidora Vanessa de Lima Figueiredo foi presa sob suspeita de ter desviado os armamentos. O incidente expõe sérias falhas na estrutura de armazenamento de evidências criminais, sendo considerado por servidores como apenas “a ponta do iceberg”.

Em entrevista ao BHAZ, representantes sindicais da Polícia Civil afirmaram que o desvio não é um caso isolado em Minas Gerais. Marcelo Horta, presidente do Sindicato dos Escrivães de Polícia do Estado de Minas Gerais (Sindep/MG), descreveu a ação de Figueiredo como um “desvio de conduta pessoal”, mas destacou que a ausência de controle e a precariedade estrutural criaram um ambiente propício para a prática criminosa.

“Ela percebeu que havia uma falha no sistema, que não tinha controle. Essa falta de supervisão deu a ela a segurança para cometer esse tipo de crime”, explicou Horta. Ele também ressaltou que o número de armas extraviadas é “assustador” e que a situação “vem ocorrendo há muito tempo”. O líder sindical acredita que a prisão da servidora é apenas “a ponta do iceberg”, sugerindo a existência de uma estrutura organizada por trás do desvio.

A precariedade das instalações é um fator crítico, já que muitas delegacias em Minas Gerais não foram projetadas para esse propósito, utilizando residências como sedes operacionais da PCMG. Horta enfatizou a necessidade urgente de implementar uma cadeia de custódia para garantir a segurança e a rastreabilidade dos materiais apreendidos.

A legislação atual, a Lei 13.964 de 2019, estabelece procedimentos para manter e documentar a trajetória das evidências coletadas, mas, segundo o sindicato, não há unidades adequadas em Minas Gerais, mesmo após seis anos de vigência da lei.

Wemerson Oliveira, presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais (Sindpol), corroborou a crítica ao sucateamento da corporação, que enfrenta baixos salários e falta de efetivo. Ele apontou que a situação econômica pode ter contribuído para o desvio de conduta da servidora.

Oliveira também sugeriu que as armas desviadas podem ter sido repassadas a organizações criminosas, como o Terceiro Comando Puro (TCP) ou o Comando Vermelho (CV). “Não temos dúvidas de que muitas dessas armas foram entregues a grupos criminosos, especialmente na região ao redor da delegacia”, afirmou.

A Seplag-MG, por sua vez, esclareceu que Vanessa de Lima Figueiredo não é concursada da pasta e que sua atuação se restringe à Polícia Civil, onde ingressou em 2014 como Analista.

A PCMG, em resposta a questionamentos sobre a cadeia de custódia, afirmou que todos os itens apreendidos são armazenados de acordo com as legislações vigentes e que, entre 2019 e 2022, mais de 1.550 novos servidores foram integrados à corporação. A polícia também destacou investimentos significativos na renovação de sua frota.

No último domingo (9), a PCMG cumpriu um mandado de prisão contra Figueiredo, que está sendo investigada pelo crime de peculato. Dois mandados de busca e apreensão foram executados, resultando na apreensão de mídias e documentos para análise pericial.

A PCMG instaurou um procedimento administrativo para investigar as irregularidades, e a Corregedoria da corporação já está apurando o desvio das armas em um inquérito que se encontra em estágio avançado.

**Fonte:** BHAZ
**Foto:** Imagens cedidas ao BHAZ (Sindep)

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