Mês de maio, temperatura caindo, e, com ela, a preocupação dos donos: será que meu cachorro sente frio? Preciso agasalhá-lo e deixar de sair na rua devido ao ar gelado? E por que será que ele mantém o corpo quentinho, mesmo em baixos graus Celsius?
Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, explica, com base em estudos relacionados à Fisiologia, como o de Guyton & Hall (“Tratado de Fisiologia Médica”), que os cães são animais adaptados ao frio.
Prova disso é a maneira pela qual regulam a temperatura corporal: através da respiração – ao contrário dos humanos, eles praticamente nem transpiram.
“Ao longo do processo de evolução, inspirar o ar frio foi a forma que os cães encontraram de controlar a temperatura do próprio corpo. Com isso, viver em locais de clima quente acaba sendo muito mais desafiador para eles, pois ficam ofegantes na tentativa de expelir ar quente do corpo e trazer, para dentro, ar frio. Não raro, o calor leva os cães a morrerem de hipertermia”, detalha.
Assim, frentes frias só começam a ser complicadoras para o cachorro quando a temperatura fica negativa, algo raro no Brasil.
Além disso, duas características dos cães funcionam como isolante térmico, que os protegem do frio: pelo e gordura corporal. “Não há cobertor mais eficiente do que o pelo. Ele evita que o animal perca ou receba calor em excesso, ajudando a equilibrar a temperatura do corpo”, registra Chamone.
Justamente por isso, uma atenção especial deve ser direcionada a cães muito magros ou sem pelos, como os galgos, os pelados mexicanos e os cães de crista chinesa.
Frio: sinais e ações
Segundo a geneticista, há alguns sinais normais, nesta época, que não demandam grandes preocupações.
Um deles é o fato de o cão dormir mais. “Como a temperatura do corpo cai de 1 a 2 graus enquanto os cães dormem, o frio é um ótimo indutor de sono. Consequentemente, quando está muito quente, reduzir a temperatura do corpo, para promover a indução do sono, é muito mais difícil – por isso, os cachorros tendem a ficar mais inquietos e desconfortáveis no calor”, avalia.
Também é natural que fique mais quieto, gaste mais energia e sinta mais fome, já que, pelo fato de serem animais homeotermos (ou seja, manterem a temperatura do corpo constante – entre 38,5 a 39,5 graus –, independentemente da temperatura externa), suas células precisam funcionar constantemente como verdadeiras “usinas térmicas”.
“É por isso que grande parte das calorias ingeridas é convertida em calor. Quando está frio, esta produção de calor precisa ser maior para que ele mantenha sua temperatura corporal constante; portanto, ficar mais quietinho é uma forma de minimizar o desperdício de energia pelo corpo. Até por isso, é válido checar, com o veterinário, a possibilidade de aumentar um pouco a quantidade de comida neste período – claro, se o animal for saudável”, pontua.
Estes sinais são comuns. No entanto, ao sentir de fato um incômodo com o frio, o cão dá outros sinais claros: além de ficar quieto, com o corpo mais enrolado, ele treme. Isso ocorre porque, ao tremer, os músculos trazem movimento ao corpo para produzir mais calor, na tentativa de aumentar sua temperatura.
Nessas situações, Chamone recomenda ações simples: disponibilizar cobertores e mantas e proteger o cão de ambientes abertos – se ele dorme em área externa, por exemplo, é interessante providenciar casinha com papelão no chão.
“No entanto, evite empacotá-lo demais com roupas ou muitas cobertas; além de causar desconforto, isso pode torná-lo cada vez menos resistente ao frio, sendo que o ideal é sempre aumentar a adaptabilidade do cão ao ambiente em que vive. Deixar janelas abertas, para o ar circular, e acesso a áreas externas à casa são ações importantes para esta adaptabilidade”, pondera a geneticista.
Por isso, atenção às roupinhas, pois nem todo bicho se sente confortável com o uso. “Se o cão foge para colocar a peça ou demonstra desconforto, recomendo não forçar”.
Um cuidado especial deve se voltar aos cães idosos, pelo fato de comumente terem doenças articulares. “Elas costumam piorar no frio porque o cachorro fica mais quieto e encolhido, contraindo muito a musculatura. Por isso é importante estimular seus movimentos”.
E, por falar em movimento, um ponto que causa questionamento é manter ou não os passeios diários nesta época do ano. A tendência de muitos donos é não passear com seu cachorro no inverno, com receio de que ele passe frio. No entanto, Chamone explica que a atividade física é recomendada, pois eleva a temperatura do corpo, além de produzir inúmeros efeitos benéficos à saúde.
“Ao ficar mais ofegante, o cachorro aumenta sua taxa metabólica e a temperatura corporal, conseguindo se auto aquecer. Portanto, o passeio é essencial em qualquer estação do ano, inclusive para manter a qualidade de vida diária do animal”, garante.
Vacina da gripe
Ao contrário do senso comum, no mundo canino, a vacina da gripe não deve ser recomendada apenas em uma estação, como no inverno.
Segundo o manual da World Small Animal Veterinay Association (WSAVA), esta vacina é importante independentemente da época do ano, mas para um grupo específico: cães que frequentam locais onde há aglomerações caninas, como creche ou hotelzinho.
“A principal forma de transmissão de parasitas da gripe canina ocorre pelo contato direto com as secreções nasais de um cachorro infectado ou com objetos contaminados pelo animal doente, como comedouros ou brinquedos de roer. Por isso, se o seu cão tem contato direto com outros, é importante vaciná-lo”, pontua Chamone.