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Cai em mais de 40% a oferta de imóveis novos no país; preços podem subir

Por Dentro De Tudo:

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Faça o teste: procure por imóveis novos, de até R$ 300.000, nas empresas que atuam com vendas em Belo Horizonte e região e observe que as opções não vão muito além da primeira página. A oferta imobiliária de apartamentos na planta ou em construção está menor em todo o país e isso pode levar a preços mais elevados. Segundo um levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o volume de lançamentos imobiliários foi 44,4% menor no primeiro trimestre de 2023 se comparado ao último trimestre de 2022; foram 48.554 unidades contra 87.315 no ano passado. Os dados foram divulgados no final de maio.

Vinícius Henrique Costa, de 36 anos, presidente da Associação Brasileira de Mutuários da Habitação (ABMH), conta que não tinha visto uma queda de lançamentos tão drástica desde 2005, época do boom do mercado imobiliário no Brasil. Ele relata, inclusive, que tem recebido reclamações de demora na entrega de alguns empreendimentos. “Em alguns casos, há mais de seis meses de atraso, que é o prazo de carência em contratos”, explica.

O levantamento da CBIC, apontou que, entre o primeiro trimestre de 2023 e o de 2022, houve uma queda de 30,2% no número de lançamentos. “O reflexo imediato disso é o aumento do preço. Se muita gente tem interesse em comprar um imóvel, posso elevar o valor até encontrar alguém que pague”, explica Costa. 

O presidente da ABMH observa ainda que o impacto no preço dos lançamentos pode levar à maior procura de imóveis usados, também inflacionando os valores — lei da oferta e procura. 

Costa orienta os consumidores a aguardarem pela estabilidade do mercado, porque corre-se o risco de comprar um imóvel caro, pela volatilidade atual, e revender abaixo do preço adquirido, tendo prejuízo. 

Em caso de urgência na compra, a dica do presidente da ABMH é abrir o leque de opções: buscar por imóveis usados e também pesquisar ofertas em leilões e consórcios. “Os descontos em leilões podem chegar até a 50%”, detalha. 

Incorporadas esperam pelo novo ‘Minha Casa, Minha Vida’

Renato Michel, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), diz que, obviamente, a situação é preocupante para o setor, já que “o lançamento de hoje vai ser a obra de amanhã”, mas que não existe uma ligação com uma menor demanda do consumidor e sim com uma insegurança de incorporadoras em relação ao novo governo.

“As vendas estão um pouco mais fracas, mas em BH a queda não foi tão grande [analisando abril deste ano com o de 2022]. Há uma oferta muito pequena de imóveis na capital, são cerca de 3 mil disponíveis”, explica o presidente do Sinduscon. Nesta quarta-feira (14), a entidade deve apresentar novos dados do setor na capital.   

Segundo Renato Michel, atualmente, o setor está produzindo unidades que foram vendidas nos anos de 2021 e 2022. “O mercado da construção civil atua com delay. Tivemos três anos muito bons. A falta de lançamento pode comprometer o futuro, mas ainda não tivemos reflexo nos empregos. Poderemos ter perdas, fruto desta inoperância, lá na frente, em 2024”, detalha. 

Hoje, há cerca de 2,5 milhões de trabalhadores na construção, sendo que cerca de 600 mil postos surgiram durante a pandemia. “Em Minas são 330 mil e em Belo Horizonte 110 mil empregados com carteira assinada. E existe ainda muita informalidade e empregos induzidos”, observa o presidente da Sinduscon. 

Michel explica que é de se esperar que as incorporadoras posterguem seus lançamentos durante o início de uma nova gestão, onde existem muitas incertezas. “Depende da confiança nas questões macroeconômicas. É um governo novo, tem a reforma tributária, o arcabouço fiscal e a taxa de juros alta. O empresário fica mais apreensivo”, lista. 

Segundo ele, as empresas esperam por um momento melhor para os lançamentos, quando as ofertas ficariam mais acessíveis ao consumidor. “O imóvel é um bem durável. As famílias assumem financiamentos de 30 a 35 anos. A taxa de 13,75% da Selic é muito alta”, diz. 

Segundo dados do Banco Central de abril, a taxa cobrada pela Caixa para o financiamento de imóveis por pessoas físicas é de 0,76% ao mês e 9,55% ao ano. Em julho do ano passado, a instituição financeira chegou a anunciar juros de 7,66% ao ano para imóveis de até R$ 350 mil. 

Com a Selic em alta, o presidente do sindicato explica ainda que os investidores que compram imóveis para alugar acabam se afastando e deixando o dinheiro no banco, que oferece remunerações mais significativas.

Para Michel, uma simples sinalização de tendência de queda da taxa básica de juros pode fazer com que os lançamentos sejam retomados. “A gente aguarda por este momento, mas também entendemos que a autonomia do Banco Central é importante”, opina. 

Ele lembra ainda que a morosidade do lançamento do novo Minha Casa, Minha Vida, programa de habitação popular de Lula, acaba deixando o mercado em estado de espera. “Normalmente, os imóveis econômicos são os mais procurados. Antigamente, a cada mil lançamentos, 500 eram do programa. Hoje são 300 a cada mil. Espero que este número volte a crescer”, diz. 

O Senado votou a MP 1.162/2023, referente ao projeto, nesta terça-feira (13). Entre as novidades da proposta, está o fim do monopólio da Caixa sobre o financiamento. 

Plano diretor da capital restringe construções, segundo sindicato

Em Belo Horizonte, outro fator pode ter influenciado no menor número de imóveis novos. A partir de fevereiro deste ano, passou a vigorar o novo plano diretor da capital, que segundo o presidente da Sinduscon, deixa mais difícil e caro construir na cidade. O coeficiente de construção mudou e, agora, a área a ser edificada deverá ser igual à do lote. 

“Para construir além, tem que comprar da prefeitura. Já há inúmeros projetos represados. Ano que vem deve reduzir o percentual [de projetos] em Belo Horizonte e aumentar o de cidades próximas”, diz.

Fonte: O Tempo.

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