Os shoppings centers são ambientes de grande controle sobre o fluxo de pessoas, com câmeras espalhadas por todos os cantos e cancelas para a entrada de veículos. Mas isso pode não ser suficiente para prevenir ações armadas e estruturadas, frutos de um planejamento minucioso por uma organização criminosa, como aconteceu no último sábado (7), no BH Shopping, de acordo com o policial militar da reserva e consultor de segurança Jorge Tassi.
Pelo menos nove homens estão envolvidos no assalto a uma unidade da joalheria da Manoel Bernardes localizada no centro de compras da região Centro-Sul de Belo Horizonte. Treze relógios Rolex, com valores entre R$ 60 mil e R$ 300 mil, foram levados em uma ação rápida e coordenada, ocorrida no início de uma tarde de véspera do Dia das Mães, quando o shopping estava lotado.
O tumulto criado pela ação dos bandidos acabou dificultando a identificação imediata dos suspeitos, que fugiram em dois veículos – abandonados e incendiados em uma rua do bairro Belvedere. A polícia verificou que os carros tinham placas clonadas e haviam sido furtados no mês passado no Estado de São Paulo. Até a noite de domingo, ninguém havia sido preso.
Segundo Tassi, o roubo foi obviamente encomendado por uma organização criminosa ligada ao mercado paralelo de relógios exclusivos. “Houve planejamento, obtenção de veículos com placas clonadas, arranjo de armas de fogo adequadas, distribuição de tarefas entre membros do grupo e ameaças com violência real, para obtenção dos relógios”, afirma.
O especialista explica que esse tipo de assalto é pontual, para abastecer uma organização focada em um mercado paralelo difícil de ser monitorado. Para ele, os homens armados que participaram do roubo podem ser localizados e presos em breve, mas será muito mais complicado para as polícias identificarem a cabeça por trás do crime – ou seja, quem encomendou o roubo das peças e conseguirá vendê-las para clientes específicos por valores de aproximadamente 20% ou 30% do valor real.
Uma peça que custa R$ 300 mil na loja poderia estar sendo negociada por R$ 60 mil no mercado paralelo. “Essas peças têm números de série, mas aqui no Brasil não existe uma prática de olhar para isso”, explica.
O mercado paralelo de relógios Rolex roubados seria equivalente ao de obras de arte ou carros luxuosos, mas com um diferencial: joias oferecem uma portabilidade muito maior. Mesmo assim, não é fácil escoar o material roubado, segundo o consultor. “Não é a mesma coisa do roubo de celular, é um mercado muito específico. A cabeça por trás desse crime pode ser um vizinho meu ou seu, alguém que você nunca desconfiaria que é um criminoso. Ele pode ser francês, alemão, pode estar em qualquer lugar do mundo”.
Shoppings não deixam de ser espaços seguros
Tassi explica que o centro de compras dificilmente conseguiria prever uma ação tão coordenada. “O shopping é um espaço controlado para um determinado tipo de criminalidade. Ali existe uma prevenção primária, que vai tratar dos fatores de inibição do delito com base no comportamento humano”, argumenta o consultor, lembrando que este possivelmente foi o maior assalto já vivido pelo BH Shopping em 43 anos de história.
Para conter um roubo com tal nível de planejamento, um shopping precisaria investir na contratação de seguranças especializados, que trabalham à paisana, mais focados em estratégias de inteligência. Segundo Tassi, trata-se de um profissional que quase nunca é acionado, porque organizações criminosas raramente agem em malls.
Alexandre França, superintendente da da Associação de Lojistas de Shopping Centers de Minas Gerais (Aloshopping-MG), afirma que os comerciantes entendem que o roubo de sábado foi muito pontual e atípico e que os shoppings de Belo Horizonte continuam oferecendo segurança aos consumidores.
“Vemos esse caso com preocupação, sem dúvida, mas os shoppings são ambientes muito seguros. O consumidor pode ir tranquilamente, vai encontrar conforto e segurança. Esse foi um caso muito fora da curva e as joalherias estão localizadas em shoppings justamente por causa da segurança”, afirma França.
Por meio de nota, o BH Shopping afirmou que está colaborando com as autoridades de segurança pública. A joalheria Manoel Bernardes informou que “apesar dos danos materiais que ainda não foram contabilizados, não houve nenhum dano físico ou pessoal com nenhum integrante da equipe Manoel Bernardes. Acreditamos no trabalho da Polícia e no avanço das investigações para identificar a quadrilha que invadiu a loja”.
Fonte: O Tempo.