sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Cidades tem aumento silencioso da população de rua

Por Dentro De Tudo:

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Além de lidar com o avanço do coronavírus, alguns municípios mineiros estão vivendo um novo fenômeno que tem lançado mais um desafio para as gestões: o crescimento da população em situação de rua.

Sem dados concretos que comprovem, o aumento dessa população nas ruas tem se limitado à percepção e ao avanço no número de atendidos em programas sociais do governo nas cidades mineiras.

Em pelo menos três municípios do Estado com menos de 100 mil habitantes, esse fenômeno foi percebido.

Em Lagoa Santa, a percepção do aumento da população de rua é nítida para o poder público. De acordo com a assistente social Ângela Maria de Souza, do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua da cidade, em 2019, eram servidas sete refeições diárias na hora do almoço; hoje, o número já alcança 20.

Após a pandemia e com o fechamento do comércio, o local também passou a servir janta. “Além do jantar, também estamos oferecendo alimentação no fim de semana. Antes da pandemia, as refeições eram de segunda a sexta-feira e, nesse momento de pandemia, também fornecemos aos finais de semana e feriados”, explica.

Ainda de acordo com a assistente social, muitos moradores de rua chegam ao município e permanecem. Eles ainda relatam que estão migrando para cidades menores para fugir do risco de contaminação pelo coronavírus. “Eles relatam que estão migrando de municípios maiores para municípios menores pensando no risco de contaminação. Eles acreditam que nas cidades maiores o risco é maior”, conclui Souza.

“Antes eram 4 ou 5, hoje são 20”, diz morador de rua

Sentado na porta do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop) de Lagoa Santa, Pedro Alves Blanco, 35, que vive na rua há 20 anos, aguardava pelo almoço. Nascido em Belo Horizonte, ele contou que também morou por um tempo nas ruas de Montes Claros, no Norte de Minas, antes de voltar para a Grande BH. Com os pais já falecidos e sem notícia dos irmãos, ele sobrevive também de doações feita por comerciantes.

“Eu tive que vir para cá por conta da minha mãe. Ela suicidou e eu fiquei na rua”, explica. “A vida na rua é difícil. Mas aqui (no Centro Pop) a gente tem tudo e não pode reclamar. Café da manhã, almoço, café da tarde e janta. Então, a gente não pode se queixar”, afirma.

E ninguém melhor do que o próprio morador de rua para atestar o aumento no número de pessoas vivendo nesta situação com a pandemia. “Cresceu foi muito. Antes eram quatro ou cinco pessoas aqui perto. Hoje em dia são 20 ou 30. Aumentou muito mesmo”, diz Blanco.

Dados mascaram a realidade

A percepção do aumento da população de rua em cidades mineiras também refletiu no crescimento de cadastros dessas pessoas no CadÚnico, sistema do Ministério da Cidadania utilizado para a inclusão de pessoas de baixa renda em programas sociais.

No entanto, para os especialistas, o crescimento na base de dados ainda é tímido e preocupa, pois, não condiz com a realidade observada, criando uma lacuna grave no desenvolvimento das políticas públicas de assistência social. 

De acordo com levantamento do projeto Polos da Cidadania, da UFMG, com base no CadÚnico, em março do ano passado, no início da pandemia da Covid-19, o total de pessoas cadastradas no sistema do governo era de 18.095. Em janeiro deste ano, o número de cadastro aumentou para apenas 18.334, o que é preocupante, segundo o coordenador do projeto, André Luiz Freitas. 

“Temos no Estado hoje 18.334 pessoas no CadÚnico. O que nós ficamos nos perguntando é: onde estão as outras pessoas? Porque, visivelmente, houve um aumento significativo de pessoas que passaram a viver nas ruas com a pandemia, mas não teve uma alta tão significativa do número de cadastros dessas pessoas. Com isso, podemos ter mais pessoas deixadas de lado nesse acesso aos programas sociais”, questiona.

Carência de dados

Ainda de acordo com Freitas, faltam dados mais específicos sobre a população em situação de rua no país para se ter um “raio-x completo” da situação dessas pessoas.

A sugestão do pesquisador é realizar um censo nacional específico para saber, de fato, quantas pessoas em situação de rua existem no Brasil. Segundo Freitas, em Minas, com base nos dados do CadÚnico, um total de 11 cidades concentram cerca de 70% de toda a população de rua no Estado. 

Em Minas, as cidades com maior número de pessoas em situação de rua são: BH, Betim, Contagem, Sete Lagoas, Juiz de Fora, Poços de Caldas, Uberaba, Uberlândia, Montes Claros, Ipatinga e Governador Valadares.

“Essas cidades maiores tendem a se organizar um pouco melhor para atendimento a essa população, apesar de nem sempre isso acontecer. O fenômeno do deslocamento da população em situação de rua ainda é pouco compreendido pelas políticas públicas”, explica André Luiz Freitas, coordenador do Polos da Cidadania (UFMG).

Alguém responde?

Em Matozinhos e Pedro Leopoldo, também é possível ver moradores de rua. Neste fim de semana um questionamento foi feito pelas redes sociais: “Como fica o toque de recolher (20 às 05h) para quem vive em situação de rua?”, questionou um internauta.

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