Cientistas brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) identificaram o caso mais antigo de sífilis conhecido até o momento nas Américas e no mundo. Os pesquisadores identificaram traços de sífilis congênita em restos de uma criança de aproximadamente 4 anos de idade que viveu na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, há pelo menos 9 400 anos. O estudo foi publicado este mês na revista científica International Journal of Osteoarchaeology.
No artigo intitulado Um Caso Inicial de Sífilis Congênita do Holoceno na América do Sul, Rodrigo Oliveira, André Strauss, Rui Murrieta, Claudio Castro e Antonio Matioli identificaram alterações ósseas no fóssil encontrado no sítio Lapa do Santo, no município de Matozinhos. Muito sutis, as alterações nos ossos cranianos chamam atenção pela ausência de elementos ósseos e por lesões observadas a olho nu e também por meio de exames de raios-X e tomografias.
Doença de origem bacteriana, a sífilis se transmite por contato sexual e evolui em estágios que começam com uma ferida na área genital e podem evoluir para problemas neurológicos, resultando em morte. Hoje, o tratamento é relativamente simples, com penicilina e outros antibióticos, e tem alto índice de sucesso, mas antes a patologia era avassaladora. Com cerca de 150 000 casos por ano no Brasil, teve um surto entre 2010 e 2020. O número de ocorrências no período cresceu 53%, segundo os autores.
Desde a chegada dos europeus nas Américas, há um intenso debate se a sífilis teria se originado aqui e sido levada depois para a Europa, ou se teria sido introduzida pelos portugueses. “Ao encontrar um caso de sífilis com mais de 9000 anos de idade mostramos que, possivelmente, a doença chegou ao Novo Mundo com os primeiros americanos e foi exportada para a Europa, tornando-se uma das mais devastadoras do século XV em diante”, diz André Strauss, que participou do estudo. “Seria o único caso de uma doença que foi da América para a a Europa. O mais comum foi o contrario, como a gripe, sarampo, tuberculose, peste, etc.”
Rodrigo Oliveira, que liderou o estudo, e colaboradores acreditam que serão encontrados outros casos tão ou até mais antigos que o descrito no artigo, ampliando o conhecimento sobre a evolução das doenças que nos acompanham há, pelo menos, 10 mil anos no continente americano.
Fonte: Veja Abril – André Menezes Strauss/MAE-USP/.