sexta-feira, 17 de maio de 2024

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Detox de homem: entenda a abstinência de relacionamentos com o sexo masculino

Por Dentro De Tudo:

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Foram 11 anos de relacionamento até que a publicitária Juliana*, 35, e o então namorado se separassem. Isso, ela relembra, aconteceu há cinco anos e, desde então, não teve nenhum envolvimento sério com outra pessoa. “Nesses cinco anos, eu tive fases. Qualquer pessoa que termina uma relação longa tem a fase de pegação, aí foi quando eu parti para os aplicativos”, conta a entrevistada, referindo-se aos encontros sem compromisso. “Eu acredito nas relações casuais e acho que daí pode surgir, sim, uma relação duradoura”, defende Juliana. Entretanto, a publicitária diz que, com o passar do tempo, esse formato perdeu um pouco o sentido para ela. 

“Eu tenho pensado muito no custo disso para a minha vida. Então, comecei a colocar na balança: vale a pena eu conhecer uma pessoa, me arrumar, gastar (tempo e dinheiro), abrir um espaço na minha agenda? Vou (ao encontro) e dou a minha melhor versão para uma pessoa para depois, de repente, ela ir embora e a gente nem se falar no dia seguinte?”, pondera. “Eu fiquei um pouco cansada”, revela.

A conclusão a que Juliana chegou caminha junto com as de tantas outras mulheres, heterossexuais, que, voluntariamente ou não, têm evitado se relacionar com homens, uma espécie de detox, após frustrações nos relacionamentos. Nas redes sociais, o movimento ganhou o nome de “boysober” (“sobriedade de homem”, em tradução livre), em defesa da abstinência do amor romântico. “Esse nome pode ser novo, mas ele nos mostra saídas antigas frente a qualquer nível de frustração: terminar um relacionamento ou ter uma frustração com um relacionamento e prometer que não vai mais namorar esse tipo de pessoa, ou não vai mais namorar, ou não vai mais casar…”, explica a psicóloga e sexóloga Laís Ribeiro.

“Foi um caminho de frustrações. Porque, se eu estivesse tendo uma relação bem-sucedida, eu não estaria aqui com você falando sobre sobriedade de homem”, comenta Juliana, que admite que o relacionamento de 11 anos, citado no início desta reportagem, foi abusivo: “Foi extremamente doentio, tóxico”. Ela detalha que a decisão de dar uma pausa nos relacionamentos com homens veio mesmo após um episódio recente que viveu. 

“Eu me interessei por um cara, e começamos a trocar mensagem. Um belo dia, ele simplesmente parou de falar comigo, não respondeu minhas mensagens, e eu parei de segui-lo no Instagram. A partir desse momento, esse cara não é mais uma pessoa com quem eu quero me relacionar. Então, é uma escolha minha, você escolhe que não quer passar por esse tipo de validação. Acredito que eu não preciso ir a um date para poder me validar enquanto mulher desejada e desejável”, explica Juliana. 

Laís vê esse distanciamento como algo positivo quando ele surge da necessidade de reflexão. “A gente pode pensar que tem algo de interessante quando vem acompanhado de uma pergunta sobre o porquê disso, sobre ‘bom, deixa eu entender isso que comigo insiste em se repetir’. Não é só sobre solidão, é sobre solitude; é essa capacidade de falar ‘deixa eu ficar aqui comigo, com os meus vazios, com os meus fantasmas, rever o que está acontecendo’”, observa. “É importante esse tempo, esse afastamento, se tiver essa função de questionar, e te fazer sair um pouco dessa mesma trilha de repetição”, pontua.

A psicóloga e sexóloga destaca que é importante levar em consideração, nesse processo, o luto das pessoas diante das relações que terminam: “Quando se fala sobre a frustração de relacionamentos que chegam ao fim, é importante que a pessoa compreenda que muitas vezes é necessário atravessar o luto dessa relação. E o luto é um dispositivo de simbolização muito importante, que possibilita crescimento”.

Oportunidade para o autoconhecimento

A publicitária Juliana* define esse momento de detox de relacionamento com homens como oportunidade para focar outros aspectos de sua vida. “É uma questão de priorizar o profissional, o relacionamento com você mesma, com os amigos…”, comenta. “Não estou conversando com ninguém, não estou ficando com ninguém, não estou flertando com ninguém, porque na isso está fora do meu campo de prioridade”, diz ela, que rechaça o rótulo de “amargurada” que possa receber das pessoas por sua escolha.

“Eu ainda continuo uma pessoa amorosa, continuo acreditando que amor é substancial para minha vida, mas eu encontro isso em outras relações”, frisa a publicitária. “Eu moro sozinha, tenho uma vida supercorrida. Chega o final de semana, eu quero dar atenção para uma amizade, ou visitar minha família, ou ficar comigo mesma para descansar em vez de ir para um date casual do qual vou, provavelmente, chegar em casa frustrada, porque é isso que tem acontecido”, observa a entrevistada.

Médica da família e sexóloga, Regina Moura afirma que muitas mulheres nunca se viram sozinhas e, quando se encontram nessa situação, acabam se sentindo livres: “Não sabem como é ficar sozinhas. Então, construíram as suas vidas sempre com alguém, dominadas por alguém, mandadas por alguém, esse é um dos grandes problemas de nunca ter ficado sozinha, é nunca ter olhado para si mesma. E aí, quando você olha, você descobre que você é uma boa companhia para você”. Segundo a sexóloga, depois que vivenciam essa experiência e conseguem aproveitar a própria companhia, muitas mulheres ficam mais exigentes na hora de ficar com alguém de novo. “Tem que ser alguém que valha muito a pena, porque não é qualquer coisa que vai satisfazer”, explica.

“A gente precisa ter amor para viver. Só que eu posso encontrar afeto e troca em outras relações da minha vida, não precisa de um relacionamento com um homem”, ressalta Juliana, que defende que isso seja apenas uma fase pela qual está passando. “Eu acho que é uma fase que as pessoas têm para dar uma recarregada, é um autocuidado”, diz. Ela acrescenta: “Antes, a gente tinha uma cobrança muito grande de mulheres com mais de 35 anos estarem casadas com filho. Essa cobrança existe, só que eu acho que agora a gente está em outro patamar, porque não precisa ter essa pressa. Se for para encontrar uma pessoa, se for o caso de eu ter um casamento ou formar uma família, isso vai se dar no meio da do processo”. (Com Folhapress) 

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