É comum que as pessoas usem o tempo livre dos fins de semana ou feriados para colocar a casa em ordem. Faxinas mais caprichadas, organização de documentos, arrumação de armários e outras demandas que envolvam um ambiente mais limpo e ordenado acabam sendo prioridade, principalmente diante de rotinas cada vez mais ocupadas e aceleradas. Embora os benefícios da organização e da limpeza sejam reconhecidos, a atenção dedicada ao ambiente que nos circunda nem sempre parece se estender a outros campos da vida, incluindo a mente. Mas, se separamos parte do nosso tempo livre para cuidar daquilo que nos cerca, por que não conseguimos fazer o mesmo com o que está dentro de nós?
Uma das respostas para essa pergunta pode estar no fato de que, diferentemente de outras áreas da vida, a saúde mental nem sempre é considerada uma prioridade. Outra resposta versa sobre a própria dificuldade de esvaziar a cabeça, principalmente em um contexto social que envolve rotinas maçantes e um fluxo intenso de informações e de estímulos.
Apesar de reconhecer que esvaziar ou não a cabeça nem sempre é uma escolha possível, principalmente diante de contextos e realidades mais difíceis, o psicólogo e psicanalista Danty Marchezane explica que o caminho passa diretamente pela necessidade de mudança de rotina. “A recomendação é que ela não seja pautada só por situações desprazerosas, mas que a pessoa também possa ter atividades que causam prazer ao longo da semana”, orienta.
Doutorando em estudos psicanalíticos na UFMG e conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, Danty ressalta que essa mudança precisa ser contínua, ainda que seja válido aproveitar fins de semana e feriados para buscar atividades satisfatórias. “É muita ingenuidade pensar que ficamos o mês todo, às vezes semestres inteiros, sobrecarregados e achar que um feriado ou um fim de semana vai limpar a nossa mente de todas as situações complexas que vivemos. O que efetivamente vai aliviar isso é uma rotina que dê prazer a essa pessoa, que ela também possa ter acesso ao lazer, à cultura e a coisas que a divertem”, afirma.
Ainda que difícil, higiene mental é importante
Para a psicóloga e terapeuta holística Cristina Camargo, fazer uma faxina da mente é algo fundamental para nos manter saudáveis. Ela reconhece, porém, que nem sempre isso será uma tarefa fácil, principalmente diante de um contexto pautado por uma exigência de produtividade extrema. “A gente teve muito desta era industrial em que a gente criou essa crença de que falamos aquilo que produzimos”, observa. “A verdade, porém, é que já tem se provado que uma mente limpa pode nos dar mais capacidade de criar e até mesmo de fazer uma produção mais elevada”, pontua Cristina, citando o filósofo italiano Domenico De Masi, famoso pelo conceito do “ócio criativo”, que afirma que a ociosidade é um fator que estimula a criatividade.
Segundo a terapeuta, atividades como meditação e até mesmo momentos na natureza também podem ajudar nesse processo. “Sentar-se ao lado de uma cachoeira, escutando o barulho da água, é algo que pode nos trazer para o presente, e isso pode ser o exercício mais importante para esvaziar a mente, porque focar o agora faz você desocupar a sua mente em relação a preocupações do futuro”, afirma.
A psicóloga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo-comportamental, cita outras atitudes que também podem ser tomadas para minimizar os efeitos de uma mente tão ocupada. “Hoje em dia temos o ‘mindfulness’, a ioga também é uma estratégia bem legal. Uma coisa que ensino muito para os meus pacientes é adiar as preocupações dizendo: ‘Olha, agora não vou me preocupar com isso aqui, depois eu penso nisso’, em vez de ficar o dia inteiro preocupado ou pensando sobre algo. Podemos ainda pensar em estratégias como uma atividade física ou lúdica. E também em curtir aquilo que está fazendo, seja uma pintura, seja uma música – se está cuidando do jardim, arrumando um bordado, qualquer coisa em que a gente possa usar a nossa criatividade, porque, quando a exercitamos, estamos nos ocupando com coisas boas”, lista.
Fonte: O Tempo.