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Nove dias após morte de escrivã, outro policial civil tira a própria vida em MG

Por Dentro De Tudo:

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Em meio às repercussões da morte da escrivã Rafaela Drumond, de 32 anos, e de denúncias de que ela pode ter sido induzida ao suicídio por supostamente sofrer assédio dentro da Polícia Civil, um médico-legista lotado na cidade de Araxá, na região do Alto Paranaíba, tirou a própria vida neste domingo (18 de junho). O policial de 44 anos também atuava como psiquiatra na cidade mineira e, nas redes sociais, conhecidos e pacientes lamentaram a grande perda. Não há qualquer relato de que o profissional tenha sofrido assédio na instituição policial.

Uma nota assinada pela chefe da Polícia Civil, Letícia Gamboge, confirma a morte do médico, que era lotado no Posto Médico-Legal de Araxá. “Aos familiares, colegas e amigos do médico, nossos mais sinceros sentimentos pela irreparável perda. A Chefia da Polícia Civil é solidária a todos aqueles que sentem a profunda dor pelo falecimento”, complementa o texto oficial.

Nas redes sociais, a população de Araxá lamentou a morte em comentários, especialmente pacientes do profissional. “Que tristeza! Que dor no coração! Um profissional fantástico, um ser humano incrível! Vai fazer muita falta. Que Jesus cuide dos corações dos familiares e o receba em lugar de paz”, escreveu uma mulher. Em outro comentário, uma pessoa que seria conhecida do médico diz que ele teria descoberto recentemente um câncer.

“Meu médico, meu amigo, me ajudou muito! Que Deus conforte o coração de todos os familiares, amigos e que dê a ele o descanso eterno, pela sua bondade e generosidade com todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo”, disse um paciente do psiquiatra. “Gostava muito de consultar com ele. Coração imenso. Que Deus em sua infinita bondade e misericórdia conforte toda família”, disse uma outra cliente do profissional.

O Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindep-MG) também foi procurado, mas, até o momento, não se manifestou sobre a morte do policial.

A Polícia Civil informou, por nota, que instaurou um procedimento investigativo para “apurar as circunstâncias da morte do médico-legista”. “A PCMG se solidariza com os familiares, amigos e colegas do policial civil, bem como conta com a sensibilidade de todos neste momento de luto e de extrema consternação”, finalizou a instituição policial.

Saúde dos servidores e precariedade na instituição

O autoextermínio da escrivã Rafaela Drumond, de 32 anos, da Polícia Civil de Minas Gerais, lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata, com circulação de áudios indicando pressão psicológica e assédio moral, acendem um alerta para um quadro muito mais profundo dentro da corporação: falta de estrutura e consequente deterioração da saúde mental dos servidores. Um problema que segundo o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindpol-MG) é consequência de uma soma de fatores: falta de equipamentos e as condições inadequadas de serviços das delegacias, além da falta de cerca de 7 mil servidores na instituição.

Realidade essa que é confirmada pelo delegado-geral Antônio Carlos de Alvarenga, que atua na Divisão de Polícia Interestadual (Polinter). Conforme Alvarenga, a instituição tem defasagem de 50% na quantidade de escrivães, 45% de investigadores, 42% de delegados e de 35% de peritos. Situação que compromete a investigação dos crimes, com cerca de 10% dos casos apurados, e provoca sobrecarga de trabalho, com o consequente adoecimento dos servidores.

Para o delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena, a unidade de Carandaí, onde a escrivã Rafaela Drumond estava lotada, oferecia condições adequadas para que as equipes realizassem os trabalhos. “É uma delegacia que possui estrutura condizente ao trabalho policial”, garante.

Assédio como causa da morte da escrivã

Após a morte da escrivã Rafaela Drumond, vídeos e áudios como relatos de assédio moral e machismo começaram a circular entre servidores e pessoas próximas à profissional. O material teria sido deixado por ela, como forma de denunciar pressão psicológica e assédio moral.

Em um dos materiais recebidos pelos investigadores, a escrivã teria sido vítima de assédio moral, machismo e de ameaças. O suspeito das violências teria sido um servidor com cargo superior ao exercido por ela. “Eu te chamei de piranha. Risos. É muito cabecinha fraca, é muito cabecinha fraca. (….) Eu não bato em mulher, mas se você fosse homem, uma hora dessa, ou eu ou você, estava morto”, indica trecho de um dos vídeos.

Após ter acesso ao material, o Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindep-MG) se manifestou cobrando investigação do caso e a realização de uma audiência pública para esclarecer o ocorrido. Conforme a associação, outros servidores lotados na mesma região também são vítimas dessas violências.

“Os policiais estão adoecendo de forma muito perigosa e o cuidado com a saúde mental de nossos profissionais não tem chamado a atenção das autoridades responsáveis. A polícia está doente e quem deveria cuidar desses valorosos policiais está fingindo não ver”, destaca o sindicato.

Conforme o delegado Alexsander Soares Diniz, titular na Delegacia de Barbacena, não há registros formais referentes a casos de assédio moral na região.  No entanto, as investigações buscam identificar se esses episódios de violência foram relatados em alguma oportunidade.

“Não chegou nenhuma reclamação formal ao meu conhecimento, mas o inquérito policial verifica isso. Se houve algo e em que consistia essa denúncia”, disse o delegado, que afirmou que a investigação ocorre de forma isenta e profissional. “A minha gestão é de portas abertas. Temos hierarquia e disciplina em que temos que obedecer algumas regras. Mas sempre estive disponível aos policiais”, acrescenta.

Autoridades em alerta

A morte da escrivã Rafaela Drumond será tema de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A reunião deverá ocorrer na primeira semana de julho, em data ainda a ser definida. A realização da audiência foi determinada na última terça-feira (13 de junho), após requerimento do deputado Sargento Rodrigues (PL), durante encontro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa.

Devem comparecer nesta assembleia a Chefe de Polícia Civil, Dra. Letícia Gamboge, o Secretário de Estado de Governo, Igor Eto, e a Secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto.

Fonte: O Tempo.

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