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Perda física e no ensino: estudo mapeia efeitos da pandemia em crianças

Por Dentro De Tudo:

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Em 2020, crianças de pré-escolas privadas e conveniadas à rede municipal do Rio tiveram significativas perdas de aprendizagem e de aptidão física na comparação com o grupo das que estavam em pré-escolas em 2019. Os prejuízos foram significativamente maiores no grupo das mais pobres, o que fez aumentar a desigualdade verificada logo no início da trajetória escolar. Essas são as principais conclusões de um estudo divulgado na semana passada pelos pesquisadores Tiago Bartholo e Mariane Koslinski, do Laboratório de Pesquisas em Oportunidades Educacionais da UFRJ, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Ainda que confirme hipóteses já previstas, a pesquisa é importante por trazer o primeiro diagnóstico do impacto do fechamento das escolas em crianças em idade pré-escolar no Brasil. A mensuração dos prejuízos é fundamental também para planejar ações de recuperação da aprendizagem e do bem-estar nos próximos anos.

Bartholo e Koslinski já estavam pesquisando o desenvolvimento de crianças em idade pré-escolar antes da pandemia. O fechamento repentino das escolas em 2020 permitiu que uma geração fosse comparada com a anterior.

Crianças afetadas pelo fechamento de pré-escolas se desenvolveram em um ritmo mais lento e tiveram perda média equivalente a quatro meses de aprendizagem em questões básicas de linguagem e matemática, tal como identificar números e letras ou reconhecer palavras num teste de vocabulário. A pesquisa identifica que crianças matriculadas em pré-escolas que atendem um público de mais baixo nível socioeconômico aprenderam pouco menos da metade do verificado um ano antes no mesmo grupo. Em pré-escolas que atendem crianças mais ricas, esse percentual foi equivalente a aproximadamente 75%. Ou seja, todos perderam, mas os mais pobres sofreram mais.

As perdas não se restringem à aprendizagem. Ao realizarem um teste simples de aptidão física, baseado em atividades de sentar e levantar do chão, os pesquisadores identificaram que, enquanto as crianças do grupo de 2019 registaram melhora, as que vivenciaram a pandemia em 2020 registraram piora nas mesmas dimensões. Diminuição de atividades físicas e o excesso de tempo sedentário frente às telas (65% ficaram quatro horas ou mais em telas, sendo que o recomendado pela OMS para essa faixa etária é no máximo uma hora diária) ajudam a explicar esse resultado.

Esses dados evidenciam mais uma vez o quão importante são as pré-escolas para o desenvolvimento pleno das crianças, especialmente as mais vulneráveis, que tiveram menos oportunidades em casa para realizar atividades como folhear livros com pais ou brincar com números, letras, cores ou formas.

Entre as ações para compensar essas perdas ao longo dos próximos anos, a pesquisa sugere a busca ativa por crianças fora da escola, ações de acolhimento e apoio psicológico a profissionais da educação e crianças, diagnóstico individualizado do desenvolvimento cognitivo, motor e emocional, e um plano individual de recuperação do aprendizado – com foco nos mais vulneráveis.

Temos uma dívida com essa geração. O último relatório “Education at a Glance”, da OCDE, mostra que nações desenvolvidas já estão começando a pagá-la, aumentando seus investimentos em educação. No Brasil, vamos na contramão.

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