quarta-feira, 8 de maio de 2024

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Por que Nossa Senhora Aparecida é padroeira do Brasil e 12 de outubro se tornou feriado nacional?

Por Dentro De Tudo:

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O feriado de 12 de outubro tem uma razão religiosa para existir, dentro da tradição católica brasileira: para a Igreja, a data é dedicada a Nossa Senhora Aparecida, santa considerada a padroeira do Brasil.

Nossa Senhora Aparecida é o nome que acabou sendo dado a uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, feita de terracota, 36 centímetros de altura e 2,5 quilos, que teria sido encontrada em outubro de 1717, 301 anos atrás, por três pescadores no Rio Paraíba do Sul, em São Paulo.

Como a santa foi “aparecida”, a alcunha logo pegou. O episódio foi considerado um milagre – e logo outros relacionados à santa foram sendo narrados.

Devoção Nacional

De acordo com especialistas, a devoção a Nossa Senhora Aparecida demorou para se espalhar em todo o Brasil. Para o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Júnior, professor de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor de um capítulo de livro que a Editora Paulinas prepara sobre a devoção mariana no Brasil, esta fama de Nossa Senhora Aparecida se espalhou mesmo com o trabalho realizado pelos missionários da Congregação Redentorista, que iniciaram os serviços em Aparecida em 1895.

“Lentamente, a devoção popular acabou assumida pela Igreja Católica. O fervor foi amplificado com a chegada dos redentoristas e, depois, com a construção da Rodovia Dutra. Estrategicamente, Aparecida fica no meio das duas metrópoles, Rio e São Paulo”, aponta o teólogo. “Antes, a devoção estava concentrada no Vale do Paraíba e Sul de Minas.”

Princesa Isabel e a coroa

Outro relato diz respeito à neta de dom Pedro 1º, a princesa Isabel.

“Em 1868, conta-se que ela foi a Aparecida pedir proteção de Nossa Senhora Aparecida para conseguir ter um filho. Já estava casada há quatro anos, sem conseguir engravidar”, conta o hagiólogo. “Em 1874, Isabel teve uma criança, natimorta, e, entre 1875 e 1878, teve três filhos, que garantiriam a sucessão imperial.”

Em novembro de 1888, um ano antes da Proclamação da República do Brasil, a princesa teria retornado para Aparecida. Levou uma doação preciosa, conforme afirma Lira: uma coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis e um manto azul.

Esta coroa seria utilizada em 1904 em uma cerimônia oficial. “Um representante do papa a coroou oficialmente Rainha do Brasil”, diz o pesquisador Rezzutti.

Segundo ele, isto pode ter ocorrido pela influência de Isabel junto ao Vaticano. “Ela tinha muito contato com a cúpula da Igreja. E isto se reforçou durante seu exílio na Europa, quando a família imperial foi obrigada a deixar o Brasil, depois da República. Foi muito simbólico a princesa, herdeira do trono e da coroa imperial – que nunca usaria – doar uma coroa para a ‘rainha do Brasil’. De certa forma, é como se ela transferisse sua coroa para a santa.”

Mas essa coroação não fez de Nossa Senhora automaticamente a padroeira do Brasil.

Oficialmente, isso só ocorreria em 16 de julho de 1930, por decreto do Papa Pio 11º. Conforme contextualiza Altemeyer, havia uma pressão grande das arquidioceses tanto do Rio quanto de São Paulo para que o Vaticano formalizasse tal reconhecimento. Desde então, São Pedro de Alcântara passou a ser considerado “nosso segundo padroeiro”, como explica Lira.

“O ato do pontífice legitimava o que o próprio povo brasileiro já havia consagrado no coração. No decreto, o santo padre afirmou que atendia ao pedido do episcopado e do povo brasileiro, ‘o qual com fervor e piedade constantes, desde os anos do descobrimento das regiões brasílicas até nossos tempos, tem venerado e venera a Imaculada Virgem Mãe de Deus'”, conta Altemeyer.

No ano seguinte, em 31 de maio de 1931, uma missa solene ocorreu no Rio de Janeiro, então capital federal, para oficializar o decreto. “Para a ocasião, a imagem da santa foi levada em romaria de Aparecida até o Rio”, ressalta o teólogo.

O vermelhinho no calendário, entretanto, viria apenas 50 anos mais tarde. A declaração de feriado nacional foi sancionada pelo presidente João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar do Brasil, em 30 de junho de 1980, exatamente no dia em que o país recebeu a visita de João Paulo 2º, primeiro papa a pisar em terras nacionais.

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