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Socorrista do Samu relata racismo durante atendimento a idoso: ‘E agora? Ela é negra’

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“E agora? Ela é negra!”. Esta foi a frase que uma socorrista ouviu de uma das familiares do paciente que estava prestes a atender. “Tudo bem, mamãe. Ela está usando luvas”, respondeu outro parente do homem acamado que estava diante da enfermeira. “A vítima foi devidamente atendida pelas minhas mãos negras enluvadas. Quem ELES SÃO não muda quem EU SOU”. E foi assim que a profissional concluiu o relato desse atendimento, compartilhado em uma rede social.

Laura Cristina Cardoso contou nessa segunda-feira (21), pelo Instagram, como tudo ocorreu em um plantão no dia 12 de março, em São Paulo. Segundo a socorrista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), a equipe foi acionada para o atendimento de um homem, de 90 anos, “com sequelas de AVC, diabético, hipertenso, recebendo dieta via gastronomia, portador de demência, acamado”.

“Na cena (um apartamento classe média) somos recebidos pelo filho que questiona a ausência do profissional médico na equipe. Meu colega Alex Vasconcelos (educadíssimo) responde que nem todas as equipes possuem médicos e todo o bla bla bla de sempre”, narrou a profissional.

“Entro no quarto onde está a vítima e uma senhora que meio desesperada grita: E AGORA FULANO ELA É NEGRA!!!! Ao que o Fulano responde : TUDO BEM MAMÃE ELA ESTÁ USANDO LUVAS!!! Tem que ter muita resiliência…”, acrescentou Laura.

Ao fim do relato, a enfermeira ainda informa que o paciente foi devidamente atendido pela equipe e encaminhado ao hospital de privado de escolha da família. “Se você está perguntando porque essas pessoas receberam o melhor tratamento possível, eu respondo… Quem ELES SÃO não muda quem EU SOU… ‘Porque Deus resiste aos soberbos… mas dá graça aos humildes’ Tiago 4:6”, concluiu.

As mulheres negras representam mais da metade dos profissionais de enfermagem no Brasil, constituindo 53% da classe, segundo pesquisa do Conselho Federal de Enfermagem, divulgada em 2017.

Histórias de plantão

Pelo Instagram, Laura tem compartilhado diversas histórias que tem vivido como socorrista do Samu. Intitulando as publicações como “histórias de plantão”, a enfermeira fala sobre a superação diária na profissão e relata situações inspiradoras.

Em um desses relatos, a enfermeira relembrou o dia em que precisou atender uma mulher em surto psicótico. Na ocasião, ela precisava realizar um protocolo rápido de imobilização, que necessitaria de ao menos cinco profissionais. “A situação era tensa pq a vítima poderia correr para a via e ser atropelada (estávamos no centro de São Paulo) ou agredir a nata da noite paulistana”, relatou.

A profissional então pede o apoio de uma outra equipe do Samu próxima do local. “Tempo resposta recorde (cerca de 3 minutos) e chegaram não apenas eles mas outros colegas que cruzaram conosco voltando de outras ocorrências. O protocolo foi executado impecavelmente, ainda que nós nunca tenhamos atendido nenhuma ocorrência sequer juntos antes. Contar com vocês me faz mais corajosa. Que bom que nossas muitas diferenças não nos afastam”, concluiu.

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