A hepatite de causa misteriosa, que já registra ao menos 429 casos prováveis entre crianças e adolescentes de até 16 anos em 22 países, é motivo de alerta para a comunidade médica mineira, que investiga ao menos cinco casos suspeitos no Estado.
O temor dos profissionais de saúde é que se confirme a tese de que a inflamação aguda no fígado esteja ligada à combinação entre a exposição ao adenovírus 41 – associado a infecções respiratórias – e a infecção prévia pelo vírus da Covid-19.
“Se essa hipótese se confirmar, trata-se de um problema importante de saúde pública, porque o adenovírus circula pelo mundo todo, assim como o da Covid-19. Essa associação entre eles é preocupante, dada a quantidade de pessoas suscetíveis”, alerta o infectologista Carlos Starling.
A relação entre a exposição a esses vírus e a hepatite misteriosa, no entanto, é apenas uma das hipóteses levantadas pela comunidade médica mundial. Ainda não há evidências suficientes para comprovar a tese.
Segundo documento do Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) traçou quatro possíveis causas para a doença misteriosa: contaminação pelo adenovírus; sequelas pós-Covid 19; alterações na imunidade das crianças devido ao longo período de isolamento imposto pela pandemia; e intoxicação por exposição a produtos ou alimentos.
Atenção aos sintomas
O que se sabe de concreto até o momento é que, apesar dos sintomas clássicos da doença, todos os testes realizados nas crianças infectadas deram negativo para hepatites conhecidas pela comunidade médica.
“Os sinais dessa hepatite misteriosa são os mesmos de qualquer hepatite: febre, dor na região do fígado e na barriga, náusea, vômito e coloração amarelada na pele e nos olhos. O que a diferencia das outras é que os (resultados de) exames de causas conhecidas de hepatite vêm todos negativos. Nós nos defrontamos com um quadro de hepatite clínica, mas sem uma causa identificada”, esclarece o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano.
Pais devem ficar atentos à prevenção
Provavelmente, a hepatite misteriosa é provocada por um vírus, segundo o infectologista Estevão Urbano, como os demais tipos conhecidos da doença. Se assim for, a transmissão pode ocorrer por gotículas de saliva, o que torna as medidas de higiene essenciais na prevenção contra a enfermidade.
“Se tem alguma coisa que os pais podem fazer neste momento é evitar aglomerações e orientar os filhos a higienizar as mãos e a usar máscaras”, acrescenta o infectologista Carlos Starling.
Meta da vacina não foi atingida
Minas não atingiu as metas de vacinação contra as hepatites A e B no ano passado. Apenas 68,5% dos bebês com menos de 30 dias e 75,8% das crianças de até 1 ano receberam a dose contra hepatite B em 2021, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde. Já a cobertura vacinal contra o tipo A da doença ficou em 76,4%. O objetivo era imunizar 95% do público-alvo.