fbpx

Hospital João XXIII está no limite da capacidade de tratar queimados

Por Dentro De Tudo:

Compartilhe

A cada queimadura grave que acontece em Minas Gerais, a rota é quase sempre a mesma: o Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em Belo Horizonte. Apesar da urgência desse tipo de atendimento, pacientes precisam esperar por vagas e encarar trajetos que podem passar de 800 km para chegar a um dos poucos destinos de referência no Estado.

O Ministério da Saúde, por meio da Portaria 1.273, instaurada há 21 anos, recomenda que o Estado, pela sua dimensão territorial e populacional, deve ter pelo menos sete centros de referência para queimados – São Paulo deveria ter 14, e Rio de Janeiro, 5.

Hoje, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), há cinco unidades habilitadas com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para queimados, nas cidades de Belo Horizonte, Uberlândia, no Triângulo, Juiz de Fora, na Zona da Mata, Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, e Montes Claros, no Norte. Mas duas delas – em Teófilo Otoni e Juiz de Fora – não estão recebendo pacientes para internação atualmente, conforme a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) e o próprio HPS João XXIII (confira abaixo).

O Ministério da Saúde recomenda ainda que cada centro de referência tenha ao menos oito e no máximo 20 leitos de alta complexidade. Mas, segundo a secretaria estadual, há duas vagas de UTI em Uberlândia e seis em cada uma das demais cidades, um total de 26 leitos de terapia intensiva – a pasta não informou a quantidade de leitos de enfermaria e semi-intensivo. O João XXIII conta com outros 27 leitos para queimados em demais setores, como enfermaria adulto e pediátrico.

Segundo o presidente da SBQ em Minas Gerais, Marcelo Lopes, Belo Horizonte atende mais de 70% da demanda de queimados graves do Estado. “Se uma pessoa sofre uma queimadura grave em Almenara, no Norte de Minas, ela tem que ser transferida para o João XXIII. Isso demanda uma logística muito trabalhosa. Dependendo do caso, o paciente precisa ser socorrido de helicóptero, e nem sempre esse deslocamento atende a urgência”, explica Lopes.

Lotado

A alta demanda se reflete em lotação no HPS. Ontem, das 33 vagas, apenas uma estava disponível na enfermaria pediátrica. “Aqui fica lotado e nem sempre os pacientes transferidos chegam tratados de forma adequada, o que aumenta a chance de infecção no setor. Sem falar da angústia: a gente sabe que o paciente precisa ir para um CTI, um bloco cirúrgico, e não tem como absorver ele aqui”, relatou a coordenadora da Unidade de Tratamento de Queimados do João XXIII, Kelly Danielle de Araújo.

Alto custo do serviço inviabiliza expansão

O principal desafio para a ampliação de leitos para queimados é o alto custo. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) em Minas, Marcelo Lopes, uma diária específica para o tratamento de queimados custa, em média, R$ 6.000 – para efeito de comparação, a diária em um leito de CTI comum pode variar entre R$ 450 e R$ 800 pela tabela SUS.

“A saúde tem um preço e, nesse caso, altíssimo. Mesmo assim, isso não pode ser um empecilho para o governo. As pessoas merecem um tratamento adequado”, reclama Lopes. Equipamentos necessários para o tratamento de queimaduras graves, segundo ele, costumam ser caros e descartáveis. “Uma faca blair, por exemplo, que é usada no enxerto de pele, custa quase R$ 6.000, e ela pode ser usada por, no máximo, dez vezes. Então, não é só o leito. Também são necessários os equipamentos de bloco cirúrgico, as baías de balneoterapia”, explica.

Outro entrave é a falta de profissionais especializados. Esses fatores também afastam o interesse dos hospitais privados no tratamento. Em Minas, apenas o Mater Dei recebe pacientes com queimaduras e faz o transplante de pele

Governo

Estrutura. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que, a partir da implementação do programa Valora Minas, será possível reorganizar a rede de atendimento, fruto de uma política pública de financiamento que prevê aplicação de R$ 1 bilhão no complexo hospitalar.

Pacientes. Sobre a logística de transporte dos pacientes, a pasta informou que, segundo a Portaria Ministerial 2.048, de novembro de 2002, as ambulâncias do Samu prestam atendimento para pacientes em situações de urgência e emergência, podendo realizar um atendimento primário ou secundário.

Socorro. O Samu pode ser acionado pelo telefone 192. O chamado é regulado por um médico da Central de Regulação do Samu, que tem atribuição de definir a unidade de referência. 

Encontre uma reportagem